Reuters/Brasil Online
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – A Cosan, maior empresa do setor sucroalcooleiro do Brasil, vai destinar nesta safra 45 por cento de sua produção de cana-de-açúcar para a fabricação de álcool, contra aproximadamente 35 por cento do total de cana na temporada anterior.
“A Cosan está fazendo o máximo de álcool que ela consegue. Na Cosan, vai ser 45 por cento de álcool com a sua safra de cana, o Brasil como um todo é mais de 55 por cento”, afirmou o presidente-executivo da Cosan, Rubens Ometto, a jornalistas, em um intervalo do Ethanol Summit.
“A Cosan sempre foi mais açucareira”, acrescentou ele, que não forneceu números sobre a quantidade de cana que o grupo deverá processar na safra atual.
De acordo com o plano de investimentos da empresa, anunciado em abril, o processamento de cana deverá passar dos atuais 40 milhões de toneladas por ano atualmente para 50,6 milhões de toneladas até 2012.
Segundo o presidente da empresa, o aumento na produção de álcool visará atender a perspectiva de maior demanda no mercado interno.
Questinado pela Reuters se o aumento da produção de álcool tem a ver também com a queda nos preços internacionais de açúcar, ele respondeu: “Não é só isso, o setor sucroalcooleiro tem uma responsabilidade muito grande, a prioridade é abastecer o mercado (local) de álcool e açúcar, o excendente vai para exportação.”
De acordo com Ometto, a correlação entre os preços de álcool e açúcar é direta.
“Se o álcool sobe, o açúcar sobe em seguida, se o açúcar sobe…, hoje todo mundo sabe fazer conta, hoje todo mundo é inteligente”, disse ele, admitindo ainda que a produção é dinâmica e “muda de acordo com os preços.”
Para Ometto, o mercado interno deve crescer em um cenário de preço menor de álcool. Ele ressalvou, no entanto, que as distribuidoras precisam repassar a baixa de preços para os consumidores.
“Se as distribuidoras permitirem que a redução de preços atinja o consumidor final… Se você verificar, a velocidade que o preço de álcool cai (ao consumdor) não é a mesma para o produtor.”
Para ele, “está ficando muita coisa (margem) no meio do caminho, isso prejudica a gente.”
“Você desenvolve o sistema, cria o carro flex, para criar elasticidade entre oferta e procura, e quando o preço cai ele não é repassado ao consumidor, quando sobe é imediato, sobe até antes na entressafra.”
DESCONFORTO COM PETROBRAS
Segundo o empresário, na atual safra o Brasil deverá exportar aproximadamente 3,5 bilhões de litros de álcool, um volume semelhante ao registrado na temporada anterior.
Embora tenha dito que a prioridade no curto prazo seja o mercado interno, ele destacou que para o Brasil avançar na exportação de álcool é preciso mais investimento em infra-estrutura e logística.
Ometto defendeu uma parceira entre a Petrobras e o setor sucroalcooleiro para a construção de um alcoolduto, que ligue as regiões produtoras aos portos.
“Pode ser feita uma parceira, uma sociedade, uma empresa, o mais racional é fazer em parceria com a Petrobras. Eles (Petrobras) têm o estudo deles, e nós temos o nosso, acho que no momento certo vamos sentar juntos”, declarou.
Segundo o presidente da Cosan, o setor não se sente confortável com a Petrobras dominando a logística.
“Deve ter uma parceria entre a Petrobras e os produtores, porque no nosso negócio quem domina a logística domina o negócio. Nós não nos sentimos confortáveis de ver a Petrobras dominando o negócio de infra-estrutura”, declarou ele.
Atualmente, a Petrobras tem estudos de alcoodutos ligando o Centro-Oeste a Paulínia (interior paulista) e posteriormente ligando a cidade a portos. As usinas também possuem um projeto, para um alcooduto que iria das áreas de produção no interior de São Paulo aos portos.
“A prioridade seria unir Paulínia a algum porto”, completou Ometto, lembrando que existem vários projetos, entre o Mato Grosso e Goiás e entre Paulínia e São Sebastião.
“O setor está preparado para fazer os investimentos”, acrescentou, lembrando que o canal de ligação é fundamental para o “Brasil se tornar exportador.”
“O país já tem produção, mas muita coisa tem que ser feita, como abertura de mercados, as coisas têm que ir passo-a-passo, elas estão caminhando.”
Ometto disse que um mercado em potencial ainda não explorado poderia ser o Japão, mas disse que o “japonês é lento” para tomar tal decisão de iniciar importações brasileiras, referindo-se à antiga promessa de o país asiático se tornar um cliente firme do Brasil.
“Estamos sempre abrindo, teve uma época em que a Índia foi o melhor mercado, tivemos a época que os Estados Unidos foram o melhor mercado…”