Mercado

O País e etanol prontos para o futuro

A adequação da logística é a palavra de ordem para exportar o nosso álcool. Em 1925, Henry Ford profetizou: “O álcool é o combustível do futuro”. Era uma entrevista ao jornal The New York Times, e os Estados Unidos estavam à beira da Grande Depressão. Alguns historiadores apostam que Ford queria, na verdade, atingir a concorrente General Motors, empenhada no desenvolvimento de um produto a ser aditivado à gasolina, o chumbo-tetraetila – hoje, reconhecidamente nocivo à saúde pública e proibido no Brasil.

O fato é que o pioneiro da indústria automobilística mundial liderou na década de 1920 uma discussão ampla em seu país sobre um combustível alternativo e se reunia secretamente com autoridades do governo, já desconfiadas de que o chumbo-tetraetila não era seguro e já preocupadas com a possibilidade de a nação ficar refém de fontes limitadas de energia. Os que preferiram menosprezar tamanha preocupação e duvidar de que a idéia de Ford pudesse um dia virar realidade costumavam repetir: “Sim, o álcool é o combustível do futuro. E sempre será”.

Não sabiam aqueles detratores do empresário que o futuro, como é de praxe – por mais que desagrade a alguns -, acabou por chegar. Passados mais de 80 anos da discussão encabeçada por Ford, o líder da potência em que se transformou seu país olha para o Sul convencido de que é aqui no Brasil que está a alternativa para se libertar da dependência de uma reserva de petróleo concentrada no Oriente Médio. É na região que estão mais de 60% das fontes do combustível – só a Arábia Saudita tem cerca de 25%.

George Bush também sabe que seus produtores de milho, produto a partir do qual os americanos fazem seu etanol, estão mal posicionados no cenário mundial. Por dois motivos. O primeiro deles é o fato de a cultura do grão para fins energéticos estar afetando o preço para seu consumo, uma crise que atinge até a exportação para o México. O segundo problema dos fazendeiros americanos reside em seu próprio processo de produção do etanol: a cana-de-açúcar gasta quatro vezes menos energia e produz três vezes mais álcool por área que o milho.

O presidente norte-americano tinha isso em mente quando visitou, no dia 9 de março passado, o terminal da Transpetro de Guarulhos, e manifestou, enfático, o interesse numa parceria com o Brasil para cumprir sua meta: aumentar até 2017 em mais de seis vezes o consumo de etanol em seu país, passando dos atuais 20 bilhões de litros/ano para 132 bilhões de litros/ano.

No que nos diz respeito, estamos inseridos neste cenário com a experiência de mais de 30 anos que o Sistema Petrobras tem na produção de álcool combustível. E estamos especialmente atentos ao que o futuro do qual falava Ford já exige de uma nação que tem potencial para exportar 1,2 bilhão de litros de etanol este ano. A palavra de ordem é, portanto, logística.

Nos próximos seis anos, a Petrobras vai investir US$ 1,1 bilhão no Corredor de Exportação de Etanol. Trata-se de um programa cuidadosamente elaborado para, na prática, transformar em realidade o alto potencial do Brasil como exportador de álcool. Neste cenário, a Transpetro, como o braço logístico da Petrobras, tem, com sua malha de dutos, aliada a terminais marítimos e navios de grande porte, papel fundamental para garantir competitividade ao etanol.

Some-se à implantação do Corredor de Exportação do Etanol o Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro para a criação de um sistema complexo que irá garantir a chegada do produto aos clientes, notadamente os estrangeiros, cujo atendimento com a competência que nos é característica vai sacramentar a presença do Brasil como uma referência mundial no setor energético.

Esses programas são relevantes porque, frente aos enormes desafios do comércio internacional, o que agrega valor aos produtos e a um país não é somente a capacidade de produzir. É, sobretudo, a capacidade de fazê-los chegar ao destino – distribuidores e consumidores. O mais rápido e ao menor custo possível.

É, portanto, correto dizer que temos nas mãos a grande chance de fazer do Brasil, país de proporções continentais que reúne as condições ideais para o plantio da cana-de-açúcar, o que se pode chamar de Arábia Saudita dos renováveis.

Aos que incorrem no equívoco filosófico de achar que o futuro não chega nunca, opõem-se os poucos que movimentam o planeta no momento em que uma mudança de paradigma já está em curso. Deste cenário, sabemos, só participam os que aliam coragem e responsabilidade.