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Frio agrava crise energética na Argentina

Sem comunicados oficiais e sem avisos prévios, a Argentina entrou, pelo terceiro ano consecutivo, em clima de crise energética. Na segunda-feira à noite, no meio de uma onda de frio sem precedentes nos últimos 36 anos, o consumo de energia elétrica e de gás atingiu níveis elevados, ultrapassando as marcas do ano passado.

Rapidamente, o sistema energético argentino, carente de investimentos há mais de meia década, entrou em colapso. O efeito imediato foi uma seqüência de apagões que assolou vários bairros de Buenos Aires. O abastecimento de gás também entrou em colapso. Desde segunda-feira, centenas de indústrias sofrem cortes de abastecimento arbitrários.

Diversas siderúrgicas tiveram que reduzir sua demanda em 20%. Ontem, dezenas de escolas portenhas denunciaram que há dias não têm gás para a calefação e os refeitórios.

A crise tende a se agravar, já que o serviço meteorológico prevê a continuidade da onda de frio no país, o que aumentará a demanda. O presidente Néstor Kirchner, de olho nas eleições presidenciais de outubro, preferiu sacrificar o abastecimento às indústrias e preservar consumidores residenciais.

A decisão também chegou a atingir o Chile (ler ao lado). Tal como nos anos anteriores, o governo Kirchner pediu às empresas de gás na Argentina prioridade no abastecimento do mercado interno, deixando em segundo plano os contratos com o mercado chileno.

Os analistas consideram que o cenário de desabastecimento é o pior em 15 anos. Os críticos de Kirchner afirmam que esse é o resultado da falta de investimentos no setor, provocado pelo rígido congelamento de tarifas (em vigência desde janeiro de 2002).

O governo argentino, no entanto, considera que está tudo sob controle. O subsecretário de Combustíveis, Cristian Folgar, disse que não há problemas de abastecimento por causa do recorde de consumo, que chegou a 18.200 megawatts (no dia mais frio do ano passado, o consumo foi de 17.400 MW). Segundo Folgar, a demanda será atendida pelos sistemas de gás e energia elétrica.

De quebra, as duas centrais nucleares – responsáveis por 10% da geração de energia elétrica do país – não funcionam plenamente (a central de Atucha está avariada e a de Embalse voltou a funcionar no fim de semana, embora sem potência total).

Para tentar driblar a crise, o governo Kirchner ordenou, na semana passada, a compra de 1.100 megawatts diários do Brasil e do Uruguai, equivalente a 6% do consumo do país.Há dois anos, a Argentina importa da Bolívia 6% do gás que consome.

A crise atinge ainda o setor de combustíveis. O diesel está escasso nas grandes cidades e no interior. A presidente da Federação de Empresários de Combustível, Rosario Sica, disse que falta combustível em todo país.