Os moradores de Brasília poderiam estar, há pelo menos um mês, pagando mais barato pelo álcool nos postos de combustível. Mas ao contrário das grandes cidades brasileiras, a capital do país ainda não repassou um centavo sequer da redução dos preços do produto causada pelo auge da safra da cana-de-açúcar. Nas últimas quatro semanas, o preço do álcool hidratado produzido nas usinas caiu 26,01%. No mesmo período, as distribuidoras elevaram seus preços em 2,10% e os postos brasilienses, em 5,88%. A seqüência de reajustes opostos ao cenário de produção do álcool colocaram o mercado brasiliense entre os mais caros do Brasil. Na semana passada, o combustível na capital custava em torno de R$ 1,961 o litro, 16,73% mais do que a média nacional, segundo cálculos da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Distribuidoras e postos tentam explicar o fenômeno repassando a responsabilidade um para o outro. Na opinião das distribuidoras, a guerra de preços entre os postos brasilienses cria distorções no mercado que acabam mudando o processo natural de ajuste de preços do álcool em relação ao ciclo da cana. “Brasília tem essas idiossincrasias, essas promoções de preço de arrasar quarteirão”, lembra o vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustível e Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz. “É possível que, depois das promoções, o mercado esteja recompondo os preços e as distribuidoras acabam se envolvendo nisso também.”
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Distrito Federal (Sinpetro/DF), José Carlos Ulhôa, discorda do argumento das distribuidoras e alega que o preço não caiu ainda porque os postos continuam pagando caro pelo produto. “Toda vez que há um aumento ou diminuição dos preços, os postos têm a tendência de acompanhar”, afirma Ulhôa. “As distribuidoras não podem ter esse argumento de que não baixam o preço porque os postos não querem. Não faz sentido”, completa.
Segundo Ulhôa, a queda deve começar a chegar nas bombas de álcool nesta semana porque apenas agora os revendedores conseguiram preços melhores na distribuição. A tendência é que o valor do litro encerre a semana pelo menos R$ 0,10 mais barato do que nos últimos dias e volte a ser mais vantajoso do que a gasolina na hora de abastecer os automóveis.
Precaução
Mesmo perdendo um mês em comparação às demais cidades, Brasília deve entrar, já a partir da próxima semana, no ciclo de reduções de preços do álcool causado pela safra da cana. A colheita da matéria-prima vai até novembro, fazendo com que o valor do produto caia drasticamente até o fim do ano. Só que os empresários já estão preocupados com o período da entressafra da cana, que faz os preços dispararem pela redução da oferta. Na opinião de José Carlos Ulhôa, continuam faltando ações públicas que protejam o consumidor desse sobe-desce de preços. “Sou um defensor intransigente de uma política mais agressiva sobre o álcool para o mercado interno. E hoje não vejo uma política de governo que dê segurança para o abastecimento, como a criação de estoques reguladores, por exemplo.”