O atual patamar dos preços internacionais do açúcar e do câmbio não remunera adequadamente as usinas do centro-sul brasileiro e deve colaborar para que o setor priorize a fabricação de álcool na safra que está começando, afirmaram fontes da indústria.
Desde que atingiram o maior nível em 25 anos, no início de 2006, em mais de 19 centavos de dólares por libra-peso, as cotações do açúcar bruto em Nova York despencaram, pressionadas por um excedente de oferta no mercado mundial. Atualmente, o contrato maio é negociado por cerca de 9,50 centavos de dólar.
Já o real está em torno do menor valor em seis anos frente à moeda norte-americana.
“Hoje o açúcar não traz margem (de lucro) para o produtor brasileiro. Não há usina, por mais competitiva que seja, que consiga margem”, disse Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Por isso, indicou ele, “a safra será mais alcooleira que açucareira.”
A Unica divulgou na terça-feira a previsão de uma safra recorde de cana no centro-sul, de 420 milhões de toneladas, com aumento de mais de 13 por cento sobre a temporada anterior.
Desse volume de cana, 52,7 por cento deve ser direcionado ao álcool, ficando os 47,3 por cento restantes para o açúcar, segundo estimativa preliminar da entidade.
Na safra 2006/07, quando o açúcar valorizado em Nova York criava um cenário totalmente diferente, a parcela da safra direcionada à commodity chegou a 49,6 por cento.
“Para esta safra, estruturalmente o preço do álcool estará mais rentável que o do açúcar… Mas não acredito em preços animadores”, disse o diretor comercial da usina Alto Alegre, Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, num seminário na terça-feira.
Segundo cálculos da consultoria Job Economia, depois de remunerar menos que o açúcar durante toda a safra 2006/07, o álcool em março passou a gerar uma margem superior.
Nos preços atuais, a venda do combustível no mercado doméstico remunera, na média, 20 por cento a mais em real que o açúcar também no mercado interno. Na comparação com o açúcar na exportação, a diferença é ainda maior a favor do álcool.
“O açúcar foi pressionado pelo excedente na oferta… (Já o álcool) teve preços na entressafra (dezembro-abril) relativamente altos com a perspectiva de estoques baixos (no fim do período)”, disse o diretor da Job, Júlio Maria Borges.
Ele concorda com um aumento mais expressivo na produção de álcool na safra 2007/08, mas ressaltou que também os preços do combustível devem ser pressionados durante a temporada. A Unica estima um aumento de quase 3 bilhões de litros na produção.
“Para o mercado absorver (o volume extra na produção), o preço na bomba vai ter de respeitar o limite de 70 por cento (do valor da gasolina)”, disse o analista.
“Vejo o proprietário de veículo flex nessa safra numa situação confortável. Acho que será beneficiado com um preço relativamente baixo em comparação às duas últimas safras.”
Pádua, da Unica, ressaltou que, futuramente, a baixa no açúcar deve acabar alterando novamente o panorama do mercado.
O Brasil é o produtor de menor custo no mundo. Se a atividade não gera lucro no país tende a ser ainda menos atrativa em outras regiões, o que em tese estimularia uma redução na produção.