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Etanol e biodiesel...

O calor era intenso no começo de fevereiro passado para quem circulava pelo cruzamento das avenidas Faria Lima e Rebouças, na zona sul da capital paulista. No topo do edifício de 21 andares do Grupo Brasilinvest, mesmo sob o clima ameno do ar-condicionado, Mario Garnero fervilhava em idéias enquanto relia seu próprio artigo “Vinte e sete países e uma nação”, uma ode à capacidade da iniciativa privada de gerar aumento da riqueza e bem-estar a todos, mesmo convivendo com a comédia de erros proporcionada pela tradicional visão pessimista dos brasileiros, sempre prontos para lamuriar que o País não vai dar certo.

No artigo, Garnero tinha recorrido à metáfora de que cada país era um estado brasileiro. Ao relê-lo, decidiu juntar os “países” em três blocos: Sul/Sudeste, Centro-Oeste/Nordeste e Amazônia Legal. Pegou o telefone, ligou para Roberto Requião, governador do Paraná, e perguntou a ele aquilo que todo político adora ouvir: “Caro amigo, você gostaria de atrair investimentos norte-americanos para o seu Estado?” Terminada a bem-sucedida conversa, telefonou para outros governadores. Ao final dessa tarefa, a lista de confirmações já reunia os nomes de José Serra (SP), Sérgio Cabral (RJ), Aécio Neves (MG), Blairo Maggi (MT), André Puccinelli (MS), Eduardo Braga (AM), Luiz Henrique da Silveira (SC), Eduardo Campos (PE), Marcelo Déda Chagas (SE) e Wellington Dias (PI), além de Requião.

A noite abafada do verão paulistano invadia as paredes envidraçadas do escritório panorâmico, espalhado por um andar inteiro, quando Mario Garnero se dirigia ao seu elevador privativo. Ainda poderia contemplar mais uma vez a rara tela assinada pelo paisagista Burle Marx, que decora a parede frontal à sua mesa com poucos papéis, mas seguiu em frente recompensado com o dia de trabalho: faria três eventos em Nova York chancelados pelo Fórum das Américas, que fundou em 1978 e preside até hoje.

Como parceiro na iniciativa, Garnero sabia que poderia contar com David Rockfeller, dirigente do Council of the Americas, entidade criada pelo bilionário americano em 1965 para funcionar como ambiente de diálogo entre investidores multinacionais e líderes políticos da América Latina, Caribe, Canadá e Estados Unidos.

As empresas associadas ao Council atuam nos setores de energia, finanças, transporte, telecomunicação, indústria e serviços. O primeiro evento acontece na próxima sexta-feira, o segundo ocorrerá em novembro e o terceiro, em abril de 2008. Mario Garnero já sabe, no entanto, que não embarcará de volta ao Brasil no feriado de 1 de Maio. O seu ofício costuma exigir bem mais de uma semana de permanência em Nova York. E sua agenda confirma o grau de importância dos relacionamentos que constrói: dia 7 de maio almoçará com o novo secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o sul-coreano Ban Ki-Moon. “Quero apenas conhecê-lo e aproveitar o encontro para mostrar o que a nossa associação está fazendo”, comenta o sorridente missionário Garnero.