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Lula no Chile, em busca de novos aliados

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inicia hoje a visita de menos de um dia a Santiago disposto a buscar novos aliados sem aumentar os rumores de que deseja isolar a Bolívia e a Venezuela, após uma sucessão de contenciosos com os dois países, que vão da questão do etanol à criação do Banco do Sul.

Não será tarefa fácil, mas Lula usará o discurso do encerramento do Fórum Econômico da América Latina para pregar a união sul-americana: dirá que as opções ideológicas dos governantes não são problema, mas solução, pois os eleitores escolheram nas urnas o caminho da mudança.

Convencido de que é preciso acenar para a conciliação, Lula fará um pronunciamento diplomático no qual vai mencionar até mesmo o Banco do Sul – alvo de divergências entre Brasil, Bolívia e Venezuela – ao admitir que a região precisa de fontes inovadoras de financiamento.

Afirmará, porém, que antes disso é necessário aprofundar a integração na área de infra-estrutura – já iniciada, no seu diagnóstico, com a construção de estradas, pontes e hidrelétricas – e fixar normas e critérios comuns de financiamento.

Na prática, Lula não recuou de sua posição anterior: acha que não pode aceitar um prato feito antes de discutir melhor o tema. Avalia que é preciso concentrar esforços para a harmonização dos interesses do Mercosul e da União Sul-Americana de Nações. Não quer, no entanto, sair do encontro com a presidente do Chile, Michelle Bachelet, dando a impressão de que deseja livrar-se dos tradicionais parceiros.

O tom do pronunciamento do presidente será de que a América do Sul deve unir esforços para defender interesses comuns. Para ele, as posições dos países da região muitas vezes são malcompreendidas. O discurso de Lula no Fórum Econômico fechará um dia de negociações e assinatura de acordos bilaterais com o Chile. O presidente estará acompanhado de uma comitiva empresarial liderada pela Petrobrás, que pretende ampliar os seus negócios. A expectativa do governo é a de assinar memorandos de entendimento na área de biocombustíveis, com transferência de tecnologia. A chancelaria brasileira quer, ainda, firmar parcerias para impulsionar a construção de corredores interoceânicos, ligando o Atlântico ao Pacífico, cujo objetivo é aumentar os fluxos comerciais para os mercados asiáticos. O Chile tem interesse no tema.

Embora Lula queira amenizar as dificuldades, é fato que ele procura novos aliados num momento de dificuldades com os vizinhos do Mercosul. Na tentativa de contornar os problemas, ele seguirá hoje à noite para Buenos Aires, numa missão planejada para se reaproximar do argentino Néstor Kirchner.

Em sua primeira passagem pela capital chilena após a posse da socialista Bachelet, Lula também espera tornar viável um projeto de cooperação entre a Petrobrás e a Empresa Nacional de Petróleo, estatal chilena, para exploração de gás natural liquefeito (GNL), no sul do país. O intercâmbio bilateral, em 2006, alcançou US$ 6,7 bilhões, 26,3% ante 2005. Deste total, US$ 3,9 bilhões foram em exportações e US$ 2,8 bilhões em importações.

Na saudação a Bachelet, Lula lembrará a aliança entre os dois países, iniciada em 2004, para combater a fome e a pobreza no mundo. O Chile foi um dos primeiros a criar uma contribuição solidária sobre passagens aéreas para financiar iniciativas contra a miséria.

Lula vai destacar, ainda, o esforço conjunto para articular o G-20 – garantindo voz aos países em desenvolvimento nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) – e a participação das tropas do Brasil e do Chile nas missão de paz do Haiti.

As juras de amor entre os dois países têm mais um componente: para fúria da Argentina, o governo de Bachelet apóia a pretensão brasileira de assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.