Os fabricantes brasileiros de produtos manufaturados estão reduzindo cada vez mais os volumes que embarcam para o exterior#. As exportações do país, em quantidade, caíram 14,6% em automóveis, 13,1% em produtos têxteis, e 4,4% em equipamentos eletrônicos no acumulado de 12 meses até março, conforme dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) obtidos pelo Valor. A falta de competitividade das empresas é provocada pela valorização cambial. Na sexta-feira, o dólar fechou cotado a R$ 2,027.
As perdas do começo de 2007 são mais profundas do que as registradas no fim do ano passado. Em 2006, o Brasil exportou, em quantidade, 8,5% menos automóveis e 9,4% menos produtos têxteis. Os volumes embarcados de equipamentos eletrônicos até cresceram em 2006: 4,2%. O impacto desses resultados na balança é minimizado pela capacidade das empresas de elevar preços, aproveitando a demanda mundial aquecida. Dos 27 setores analisados pela Funcex, 17 obtiveram reajustes de preços mais expressivos que os aumentos de quantidade.
“Está ficando cada vez mais nítida uma divisão entre as commodities e os manufaturados”, diz Fernando Ribeiro, economista da Funcex. Graças aos preços internacionais em alta e ao apetite dos países asiáticos, os volumes exportados de commodities estão crescendo muito. No primeiro trimestre do ano em relação a igual período em 2006, as quantidades exportadas cresceram 33,4% em petróleo e carvão, 20% em café, 21,9% em abate de animais e 22,9% em açúcar. Alguns setores ligados às commodities reduziram as vendas, mas por falta de capacidade produtiva. Em siderurgia, o volume caiu 11% no primeiro trimestre em relação a janeiro a março de 2006, apesar da alta de 26,6% nos preços do setor no período.
Já as exportações de manufaturados são prejudicadas pelo câmbio e pela concorrência da China em terceiros mercados. De janeiro a março, comparado com o primeiro trimestre de 2006, as exportações, em quantidade, caíram 14% em automóveis, 17% em equipamentos eletrônicos, e 6,9% em têxtil. Outros setores tiveram desempenho pífio. No mesmo período, as exportações de calçados subiram 1,9% e de peças e outros veículos, 1,1%.
Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as exportações de automóveis, em quantidade, devem cair 10% em 2007, para menos de 800 mil veículos. Em 2006, os embarques já haviam recuado 8%. Mas as montadoras pretendem manter a receita recorde obtida com a exportação no ano passado: US$ 12 bilhões. Para isso, estão reajustando preços. No acumulado em 12 meses até março, os veículos brasileiros ficaram 9,9% mais caros no exterior.
As exportações do setor de equipamentos eletroeletrônicos estão diretamente ligadas ao desempenho dos telefones celulares. De janeiro a março, as vendas desse produto recuaram 11,5%, para US$ 517 milhões, em relação ao primeiro trimestre de 2006. Enquanto as exportações para os países da América Latina subiram 3,9% no período, o comércio para os Estados Unidos caiu 22%. “Mesmo nesse produto que tem um baixo índice de nacionalização, as empresas já se sentem na obrigação de utilizar outro país como plataforma de exportação”, diz Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).
Em 2005, a fabricante de celulares norueguesa Nokia atendeu o mercado dos Estados Unidos e exportou o recorde de US$ 1 bilhão. A partir do ano passado, a unidade do México retomou as vendas para os EUA e as exportações da Nokia no Brasil caíram pela metade. No primeiro trimestre desse ano, as exportações totais da empresa despencaram para US$ 34 milhões, ante os US$ 171 milhões de janeiro a março de 2006. Segundo a assessoria de imprensa da Nokia, isso é consequência da valorização do câmbio, do foco no mercado interno e da logística. Enquanto a fábrica do México demora sete horas para desembaraçar o produto, a unidade brasileira em Manaus leva oito dias.
Estimativas da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) indicam que o setor deve fechar o ano com déficit de US$ 900 milhões – um número muito pior que a perda de US$ 60 milhões em 2006. Em 2005, os fabricantes de têxteis e confecções obtiveram seu melhor resultado no exterior: superávit de US$ 2,2 bilhões. “Nossa situação só tende a piorar”, diz Fernando Pimentel, diretor-executivo da Abit. Se esse cenário se concretizar, ele estima uma perda de 200 mil postos de trabalho no setor, que é um dos maiores empregadores no país.
O executivo afirma que a valorização cambial e a falta de acordos comerciais está prejudicando as empresas. Pimentel ressalta que o dólar a R$ 2,0 evidencia problemas estruturais do Brasil como alta carga tributária e infra-estrutura ruim. Segundo Pimentel, o câmbio está afetando não apenas as confecções, mas também os grandes fabricantes de tecidos, cujas exportações começam a recuar.
No setor de calçados, couro e peles, os resultados só se mantém em terreno positivo por conta do couro. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), as exportações de sapatos do país, em volume, caíram 13% no primeiro trimestre do ano para 50 milhões de pares. Apesar dos reajustes de preço, que chegam a 13% de janeiro a março, a receita obtida pelas empresas também começa a recuar. No primeiro trimestre, as exportações de calçados atingiram US$ 492 milhões, 2% abaixo dos US$ 502 milhões de igual período do ano anterior.