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Uso de milho na produção de álcool faz Cargill mudar fórmula da ração

A valorização próxima a 50% nos preços internacionais do milho nos últimos 12 meses levou a Cargill Nutrição Animal – líder mundial em nutrição animal e dona da marca Purina – a mudar a formulação das rações que produz para pecuária bovina, suína e avicultura. Em entrevista ao Valor, Brian Knudson, gerente global da divisão, afirmou que a empresa está substituindo o milho pelo DDG (do inglês Distillers Dried Grains), um subproduto do processamento do milho nos Estados Unidos, para reduzir custos.

Nos EUA, o aumento do consumo de milho para etanol gerou excesso de oferta do DDG, cujos preços despencaram nos últimos meses. “O DDG substitui parcialmente a necessidade de nutrientes que o milho em grão oferece às rações para suínos, gado bovino e aves.”

De acordo com Knudson, a alta do milho provocou aumento de 30% nos custos de produção das rações. A empresa também reduziu o uso do trigo, para dirimir o aumento dos custos de produção. A mudança nas formulações também ocorreu em outros países onde a Cargill atua.

A reformulação, disse Knudson, faz-se necessária não apenas para equilibrar custos, mas também garante oferta de milho para a produção de etanol nos EUA. “A demanda das indústrias de biocombustíveis no mundo gerou uma nova concorrência para o mercado de rações, mas também criou oportunidades de diversificação. Um novo processo de produção deve ser discutido, e as indústrias têm de estar habilitadas para produzir rações mais nutritivas com o custo adequado”, observou.

Ele estima que em até três anos o mercado tende a se ajustar. Mas, até 2008, os custos de produção pecuária vão subir em todo o mundo por conta da alta das rações.

Mario Sergio Cutait, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), observou que no Brasil os custos para as indústrias também aumentaram, e a maioria delas alterou o mix de matérias-primas. O milho tem sido substituído pelo sorgo. “As indústrias se vêem obrigadas, neste momento, a reduzir custos. E, no longo prazo, a melhorar o caráter nutricional das rações, já que as áreas de pastagem tendem a reduzir e o gado terá de engordar mais rapidamente”..

A FAO – braço da ONU para agricultura e alimentação – prepara um estudo para identificar em cada país a área que deve ser destinada ao cultivo de grãos para biocombustíveis e que as devem ser ampliadas para atender à demanda crescente por grãos para alimentação humana, diz Tito Díaz, diretor de produção animal e saúde do órgão.

“É importante que os países façam um planejamento da expansão das áreas, para que as cadeias produtivas se ajustem e haja uma expansão agrícola sustentável social e ambientalmente”, afirmou.

Díaz sugere que os países invistam não apenas na produção de etanol, mas também no aproveitamento de espécies tropicais de cultivo permanente – como as palmeiras – para a produção do biodiesel. Díaz citou como exemplo os investimentos da Colômbia na produção de biodiesel a partir do óleo da palma africana.

Segundo Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio (Icone), a substituição de 15% da gasolina por etanol nos EUA até 2010 implicará uma demanda por milho que hoje corresponde a 145% da produção do país. “Não há terras suficiente para atender à demanda global por biocombustíveis, e a pressão dos consumidores por alimentos ecologicamente corretos cresce. É um desafio para as indústrias equilibrar essas demandas”. Os executivos participaram do II Global Feed & Food Congress, que acontece em São Paulo entre os dias 16 e 18.(CB)