O treminhão corta a estrada poeirenta sem muita sutileza. Um a cada três minutos. Enquanto isso, o gado confinado pastoreia braquiária empoeirada. Os trens de estrada repletos de cana correm para alimentar as famintas moendas da novíssima Usina Continental, em Colômbia, região de Barretos, a ex-meca do boi. É para lá que ainda caminham, todo mês de agosto, multidões de peões de imitação atrás do maior rodeio do Brasil, o Barretão. Mas peão de verdade – que acorda às 4 da manhã para a lida da vacada – escasseia por essas bandas. O etanol de Lula e de Bush está numa velocidade impressionante, expulsando a tradicional pecuária comercial de São Paulo e mudando a vida de muita gente.
O rebanho sem pasto segue para Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, lugares onde a cana também avança. A expulsão da pecuária de São Paulo também avança como nunca na região do Pontal do Paranapanema. As silhuetas de pontos brancos do gado nelore no horizonte dão lugar ao verde homogêneo até onde a vista alcança. Quem desce de Barretos rumo ao Pontal tem a convicção de que São Paulo pouco a pouco se está transformando num imenso canavial, digno de ser visto do espaço. Aliás, é o que tem mostrado a Embrapa Monitoramento por Satélite, que vê uma revolução cá embaixo. São milhares de hectares de pasto, ao longo da Rodovia Assis Chateaubriand, arrancados sem cerimônia para serem convertidos em canaviais.
A cana já ocupa 3,6 milhões de hectares em São Paulo – avanço de 17,64% desde 2003, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Na região de Ribeirão Preto, onde o setor sucroalcooleiro tal como conhecemos nasceu, a Embrapa Monitoramento por Satélite conseguiu medição ainda mais precisa. A cobertura de pasto caiu de 27,3% do território Noroeste paulista para 15,5%, recuo de 7,97 mil quilômetros quadrados. Falta mensurar o tamanho real desta migração na faixa do Oeste Paulista, de norte a sul, de Barretos a Ourinhos se considerarmos uma linha reta imaginária.