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Calyon triplica capital no Brasil

O Banco Calyon – braço de atacado do Crédit Agricole – triplicou seu capital no Brasil e está de presidente novo. O chileno David Jana acaba de ser aprovado pelo Banco Central para a função. “Fui convidado com a missão de crescer o banco no Brasil e aceitei prontamente, pois acredito que o potencial é grande”, disse Jana, em seu escritório em São Paulo, em entrevista ao Valor, a primeira no novo cargo.

Desde o início do ano passado o banco trouxe US$ 100 milhões ao país, ampliando seu capital para US$ 150 milhões, informa Jana. “Agora, temos bastante espaço para crescer”, afirma, acrescentando que “o dinheiro que trouxemos é uma mostra da confiança do grupo no Brasil”.

Segundo ele, após a “aquisição amigável” do Crédit Lyonnais, concluída em 2004, o Crédit Agricole quer agora diversificar receitas e ter mais atividades fora da França. Hoje, a instituição já é a sétima maior do mundo em ativos. “A posição do grupo no Brasil não condiz com seu tamanho no mundo”, diz.

Jana prioriza no país os pontos fortes na atividade em nível internacional. “Queremos adicionar valor”, afirma. Os principais destaques são os derivativos -financeiros, de commodities e de ações – e uma ampla gama de financiamentos estruturados, que incluem desde o “project finance”, os empréstimos sindicalizados, os empréstimos à exportação e financiamentos de commodities. O banco vai oferecer, também, produtos de investimento estruturados para empresas e para grandes fundos internacionais interessados em Brasil. “Para isso, vamos usar nossas plataformas em Nova York e Paris”, conta.

Mas, diferentemente de concorrentes estrangeiros que estão se voltando para empresas médias em busca de maior rentabilidade, o Calyon quer focar sua atuação junto a 80 ou 100 grandes clientes, que incluem as maiores empresas brasileiras, bancos e multinacionais, principalmente as européias. O setor de “soft commodities” brasileiro vai receber atenção especial do banco francês, principalmente açúcar e álcool. Outras prioridades serão os setores de mineração, petróleo, transportes (aviões, navios e plataformas), metais, agribusiness e energia.

Ontem mesmo foi anunciado um empréstimo-ponte de US$ 1,2 bilhão à Braskem, para comprar os ativos petroquímicos da Ipiranga, com a participação do Calyon como líder. Neste ano, o banco também liderou empréstimo de US$ 331 milhões para a TAM Linhas Aéreas, em conjunto com o Natixis, para pré-pagamento de quatro aeronaves Boeing 777-300, com vencimento em setembro de 2008. E participou de empréstimo de US$ 800 milhões para a Queiroz Galvão e de US$ 430 milhões para a Norberto Odebrecht, que vão construir sondas de perfuração que serão alugadas pela Petrobras.

Outro foco principal de atuação são as chamadas multinacionais brasileiras, que querem se internacionalizar e podem para isso contar com a rede do banco em 55 países, diz. O banco participou, por exemplo, no maior empréstimo sindicalizado dos mercados emergentes, feito no ano passado para a Vale do Rio Doce comprar a canadense Inco, de US$ 18 bilhões, com o lote máximo permitido: US$ 1,5 bilhão. O banco pretende ainda priorizar o mercado de fusões e aquisições, que anda aquecido.

Na América Latina, o Calyon só tem banco no Brasil. Atua na Argentina, Chile e México por meio de escritório de representação. Além disso, o Grupo Crédit Agricole tem atuação de banco de varejo no Uruguai. No passado, o grupo chegou a atuar no varejo também no Brasil, mas por meio do Crédit Lyonnais, dono do Banco Francês e Brasileiro (BFB), vendido em 95 ao Itaú.

Em 2001, o Crédit Lyonnais voltou a ter um banco múltiplo no país, com a compra do AGF. Mas, naquela época, o foco da atuação da instituição financeira já era outro: o atacado. Com a compra do Crédit Lyonnais pelo Crédit Agricole, surgiu então seu braço de atacado, o Calyon, o Crédit Agricole de Lyon, que já responde por 29,3% dos lucros do grupo. No Brasil, o Banco Calyon Brasil S/A tem 110 funcionários, dos quais 55 no banco de atacado e 55 na gestão de recursos e de grandes fortunas.

Apesar de chileno, o economista Jana conhece as principais corporações brasileiras, pois foi diretor de corporate do BankBoston no Brasil de 98 a 2003. No Chile, chegou a trabalhar no Chase e foi diretor financeiro da Enap, a empresa de petróleo estatal. Jana assume no lugar de Alexander Rabinowitz, que, segundo ele, deixou o Calyon por razões pessoais.