Mercado

Bush, etanol e a nossa logística

Em sua recente visita oficial ao Brasil, o presidente norte-americano George W. Bush chegou com um grande tema para discussão: o etanol. Como resíduo da visita ficou evidente que o produto brasileiro tem potencial para enquadrar-se em padrões comerciais mundiais.

Este potencial abre a possibilidade de criação de um mercado internacional estável para o produto, tornando o etanol uma commodity. As usinas produtoras instaladas no Brasil que estiverem adequadamente preparadas, desde já, para esta nova dimensão do etanol certamente sairão à frente.

Isto envolve a busca pela redução dos atuais custos agroindustriais. O corte, carregamento e transporte (CCT) são, por exemplo, responsáveis por cerca de 25% dos custos totais de produção de cana-de-açúcar no Brasil. É urgente, portanto, que os produtores atentem para a eficiência logística.

Como exemplo prático, pode-se fazer uma analogia com o sistema de atendimento bancário. Antigamente, cada caixa tinha a sua fila e o cliente não ficava sabendo quem era o mais eficiente. Isso foi resolvido com as filas únicas.

Os eficientes softwares de logística de transporte geram, nas usinas, solução semelhante à implantação das filas únicas nas agências bancárias. Os caminhões somente serão alocados para as frentes de corte caso existam equipamentos suficientes para atendê-los. Isto garante o abastecimento uniforme de cana para moagem na usina, considerando um dimensionamento adequado dos equipamentos (caminhões, colheitadeiras, carregadoras e tratores), redução das filas e também das horas paradas.

Em números, uma economia estimada dos custos do CCT entre 5% e 8%. Além disso, principalmente em anos-safra, ainda é preciso lembrar que até detalhes como o gerenciamento das manutenções preventivas dos caminhões e demais equipamentos, bem como a troca de turno dos motoristas, podem significar diferenciais de custo muito importantes.

No Brasil, há usinas em fase avançada em termos de logística de transporte de cana, já usando inclusive a transmissão dos dados de chegada e saída dos caminhões via satélite e transmissão por radio-freqüência. Estão no caminho certo, reduzindo o efeito das “ondas” de chegada de caminhões, sem prejudicar o abastecimento de matéria-prima.

Interessante notar que na pauta do encontro entre George W. Bush e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva houve espaço para a futura cooperação bilateral na área de pesquisa e desenvolvimento científico em relação ao etanol. A parceria pode gerar novas tecnologias que tornem a extração do etanol mais produtiva.

Para que passos mais largos como estes possam vir a ser dados com segurança, a logística deve ser vista como um alicerce. Hoje, Brasil e Estados Unidos são responsáveis pela produção de 70% de todo etanol consumido no planeta (aproximadamente 35 bilhões de litros por ano). Não podemos deixar que detalhes na operação nos levem a perder o rumo.