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Açúcar, minas e ouro preto

A INDÚSTRIA dos produtos da terra parece liderar a recuperação da economia. A cada rodada de números, aparecem mais sinais de que o “hype” produtivo está em agroindústria, mineração e petróleo, com embaladas adicionais no varejo e na indústria de alimentos, bebidas e teles, além de setores dependentes de insumos importados.

Fiesp, BNDES, IBGE e Bradesco divulgaram ontem indicadores que confirmam a impressão de um novo ciclo da cana e das minas, ironia histórica que, para analistas mais sobressaltados, é sinal de regressão a uma economia mais primitiva.

O BNDES mostrou um balanço mais animado. Nos últimos 12 meses, o banco estatal liberou R$ 56,8 bilhões em empréstimos, crescimento de 28% contra o período anterior. O crédito para o setor de máquinas e equipamentos cresceu 21%.

Mas o financiamento de máquinas para a agroindústria, em particular para o álcool, cresceu mais, 54%, à frente de infra-estrutura (30%).

A Fiesp confirmou ontem que três de cada quatro empregos criados na indústria paulista neste ano apareceram nas indústrias de álcool, açúcar e petróleo, nas quais também o número de trabalhadores aumenta com mais velocidade: 20% ao ano.

Outro setor que vai bem, material eletrônico e equipamentos de comunicações, faz sucesso com componentes importados baratos. Entre os grandes, quem mais puxa para baixo o nível de emprego paulista são as montadoras e a indústria de couros e calçados. Mas melhorou a situação geral das fábricas de São Paulo. De 21 setores, 16 mais empregaram do que demitiram, o que não se via faz uns dois anos. Ainda assim, o ritmo de criação de empregos vai muito abaixo daquele visto nos anos bons de 2000 e 2004. E muito emprego da agroindústria da cana é mais agro do que industrial.

Os economistas do Bradesco soltaram ontem seu balanço de investimentos divulgados no primeiro trimestre.

Na liderança, mineração e siderurgia, teles, petróleo, açúcar e álcool. No balanço do ano passado, as indústrias de petróleo, eletricidade e mineração e siderurgia representaram 80% dos investimentos anunciados.

Decerto é um número a ser lido com algum cuidado, pois se trata de uma conta enviesada: tabulam-se anúncios de investimentos (não de despesas realizadas), balanço que, de resto, tende a privilegiar negócios de empresas maiores (justamente mineradoras, petroleiras etc.). Ainda assim, o número tem se mostrado compatível com as as tendências de fato observadas na economia.

Por fim, o balanço regional da indústria feito pelo IBGE indicou que os Estados produtores de “commodities” para exportação (minérios, grãos, combustíveis, celulose) tiveram os melhores resultados no primeiro bimestre do ano. Quem produz manufaturados tropeçou, dada a valorização do real.

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