Mercado

WWF quer rever impacto do álcool no ambiente

A organização não-governamental WWF decidiu revisar os estudos sobre os impactos ambientais provocados pela brutal expansão da cana-de-açúcar prevista para os próximos anos no Brasil. Na Região CentroSul, a previsão do mercado é que surjam nos próximos seis anos cerca de uma usina de açúcar e álcool por mês. O investimento que deverá ser aportado no setor é gigantesco: US$ 14,6 bilhões. A questão ambiental tende a ganhar relevância para o etanol. A União Européia vai criar uma certificação para atestar a sustentabilidade do álcool, sem o qual não poderá ingressar no mercado europeu.

Segundo Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, superintendente de conservação do WWF, os estudos que a entidade está organizando pretendem dar uma nova leitura crítica para o avanço da cultura canavieira. A ONG está muito preocupada com o modelo de crescimento da atividade sucroalcooleira. O plantio de canade-açúcar tem mudado, afirma Scaramuzza, a paisagem do interior do Brasil.

A chegada da cana tem reduzido a diversidade de culturas antes vistas no campo. Esse processo tem levado à concentração de terra para a monocultura da cana. Isso tem provocado uma fuga de pessoas para as áreas urbanas, diz Scaramuzza.

Estudo feito pela Embrapa Monitoramente por Satélite a partir de imagens espaciais do interior de São Paulo mostra que na macrorregião de Ribeirão Preto, a meca do setor sucroalcooleiro, a cobertura de cana mais do que duplicou entre os anos de 1988 e 2003. Era de 10,8 mil quilômetros quadrados para 22,8 mil quilômetros quadrados. Além da questão trabalhista que é séria, há muita preocupação do WWF em relação a instalação de várias unidades de produção de etanol sem o devido cuidado. A dúvida é se estes projetos são sustentáveis num cenário de preços baixos do etanol. O que vai acontecer com estes projetos a partir de uma situação desfavorável do negócio?, questiona.

Os defensores da cultura afirmam que a área de cana pode dobrar sem que haja necessidade de invadir biomas ainda intactos, como o Pantanal e a Amazônia. Em área amazônica o problema não é o plantio, a cana não se adapta a climas muito úmidos, mas o efeito pode vir indiretamente. A cana pode entrar em áreas de pastagens ou de soja, que podem migrar para áreas amazônicas. Esse é um risco, afirma Scaramuzza.

Para Frederico Ozanan, chefe da Embrapa Agroenergia, há no Brasil cerca de 60 milhões de hectares de pastagens degradadas que servem bem como área para o avanço da cana, cujo espaço hoje se resume a 6,3 milhões de hectares. Mas ao mesmo tempo, Ozanan afirma que a corrida para a produção de etanol precisa observar questões como o balanço ambiental, e não apenas o econômico. Temos visto, sim, iniciativas que avançam sobre áreas que não são as melhores. Sem tomar os devidos cuidados com essa questão, não adianta ter eficiência econômica e energética, afirma. A Embrapa Agroenergia, criada recentemente, pretende coordenar um esforço nacional de pesquisa para o setor canavieiro.

O governador José Serra disse na sexta-feira que pretende rever a legislação que determina prazos para o fim das queimadas de canaviais. A proposta ainda está em estudo, mas, de acordo com ele, a idéia é tornar esse prazo menos elástico. Serra prometeu uma proposta exeqüível para o setor, mas muito rigorosa.

O prazo para o fim das queimadas é considerado excessivamente longo por ambientalistas e estudiosos. Com a atual legislação, o fim definitivo das queimadas nos canaviais de São Paulo acontecerá apenas em 2031. Nesta safra, a maior da história, 30% da área será colhida com máquina. O setor tem cumprido a regra, mas tem todas as condições de acelerar a colheita mecânica ainda mais, argumenta Evaristo de Miranda, diretor da Embrapa Monitoramento por Satélite. O problema da medida é que ao mecanizar a colheita, o setor deixará de gerar muitos empregos. É preciso que isso também seja considerado. Sem o corte manual da cana, muitas pessoas que dependem da cana ficarão sem trabalho, pondera.