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Motor flex foi golpe de mestre

A chegada dos carros flexfuel foi um golpe de mestre da indústria automotiva brasileira. A simples possibilidade de escolher entre álcool ou gasolina ajudou a derrubar a desconfiança em relação ao combustível vegetal, principalmente de quem conviveu com a falta dele nos postos nos anos 80 e 90.

Mas, ao mesmo tempo que criaram uma opção menos poluente, seduziram ecologistas e até valorizaram o Brasil ao olhos do mundo, os carros flex acabaram se tornando praticamente uma imposição.

Hoje, nove entre 10 automóveis comercializados no país são bicombustíveis e a maior parte dos modelos sequer oferece versões movidas somente a gasolina. E, como toda nova tecnologia tem seus furos, logo começaram a ser apontadas as primeiras deficiências dos modelos flexíveis. Mecanicamente, é impossível fazer um motor responder bem aos dois combustíveis. O que os fabricantes de carros conseguiram foi um desempenho médio para melhorar ao máximo o uso de ambos, observa Gilberto Mirelle Pose, diretor de qualidade de combustíveis da Shell.

Inicialmente, os automóveis flexfuel não obtiveram bom rendimento nem com o álcool nem com a gasolina. O consumo de combustível era maior e a performance, em geral, não apresentava vantagens em relação aos modelos movidos apenas a gasolina ou a álcool. Nos últimos quatro anos, fabricantes de automóveis e empresas como Bosch, Delphi e Magneti Marelli fizeram amplos estudos de aprimoramento.

Na teoria, todos os carros bicombustíveis deveriam utilizar álcool ou gasolina no motor sem que houvesse qualquer prejuízo para o usuário — como perda de potência, consumo exacerbado ou durabilidade das peças. Ou seja, o motor deveria ter o comportamento de um original a gasolina e de um original a álcool simultaneamente.

Progresso

1 — A tecnologia flexfuel surgiu na década de 80 nos Estados Unidos. Na época, o governo da Califórnia criou uma lei que obrigou as fabricantes de carros a adaptar parte das frotas para o uso de combustíveis alternativos.

2 — Por causa do álcool, mais corrosivo que a gasolina, diversas peças tiveram de ser substituídas nos modelos flex. Entre elas, válvulas, cabeçotes, bombas de combustível, bicos injetores, lubrificantes entre outros.

3 — A Anfavea — Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores — estima que, em 2013, mais da metade da frota brasileira já será composta por carros flex. Hoje, cerca de 12% dos 23 milhões de automóveis existentes no Brasil têm a tecnologia.

4 — Os veículos bicombustíveis estÆo no mercado brasileiro há menos de quatro anos e correspondem, atualmente, a aproximadamente 83,5% das vendas de automóveis e comerciais leves zero quilômetro. Só que 90% dos modelos à venda são flexfuel.

5 — Os carros flex usados estão mais valorizados que os modelos movidos apenas a gasolina. Seu valor de revenda é de 10% a 15% superior.

6 — Os Estados Unidos são os maiores produtores de álcool da atualidade, com 20,4 milhões de litros anuais extraídos do milho. O Brasil vem em segundo e produz 18 bilhões de litros por ano.

Melhor

O etanol brasileiro, extraído da cana-de-açúcar, tem desempenho 50% superior ao norte-americano.