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Bradesco crê que operação dá visibilidade ao BBI

O telefone tocou em um domingo à tarde. O diretor-geral do Banco Bradesco de Investimentos (BBI), Bernardo Parnes, já vinha sondando a acirrada disputa sobre o controle da Usina Vale do Rosário, para ver se a instituição poderia participar de alguma forma da operação. Mas foi só ali, naquela tarde quente de 25 de fevereiro, que chegou o pedido: o banco teria condições de financiar dois sócios, com cerca de 20% de participação, em mais de R$ 1 bilhão?

Naquele mesmo dia, à noite, o time de Parnes e de Sérgio Clemente, diretor-executivo da área corporativa do Bradesco, reuniram-se com os acionistas Cícero Junqueira Franco e Luís Biagi. A pressa era justificada. No dia seguinte, venceria o prazo de 30 dias dado pela Cosan para que os acionistas exercessem o direito de preferência por uma parcela de 50,02% das ações da Vale do Rosário. O grupo detentor desses 50,02% de participação havia fechado com o controlador da Cosan, Rubens Ometto, a venda de seus papéis. Se Cícero e Luís não conseguissem exercer a preferência, o controle da Vale do Rosário iria para a concorrente e os planos de fusão com a Usina Santa Elisa não vingariam.

Já na segunda-feira, depois de analisar garantias como terras e participações societárias, o Bradesco deu o OK para o financiamento de R$ 1,35 bilhão, que permitiu a aquisição alavancada da Vale do Rosário. A operação, porém, não se restringiu ao crédito. “Já amarramos as possibilidades de saída via mercado de capitais e, no mesmo dia em que pagamos os cheques para os acionistas, montamos um posto avançado no escritório de advocacia Pinheiro Neto para quem quisesse investir no nosso private banking”, afirma Parnes, que não soube informar quanto foi investido por esses acionistas.

Em uma mesma operação, portanto, o Bradesco emprestou recursos, comprometeu-se a liderar operações da Vale do Rosário no mercado de capitais (que Parnes prefere não detalhar mas que, a se julgar pela febre de lançamento de ações em bolsa, não é difícil de adivinhar) e captou dinheiro de volta, na forma de aplicações. “Queremos fazer dessa operação um estudo de caso de como o BBI pretende atuar, mostrando a força da integração com a nossa área corporativa”, explicam Parnes e Clemente. Parnes, ex-Merrill Lynch, foi contratado há nove meses pelo Bradesco para dirigir o BBI.

Do financiamento total de R$ 1,35 bilhão que o Bradesco colocou à disposição dos acionistas Cícero e Luís Biagi, cerca de R$ 850 milhões foram pagos na primeira etapa, segundo cálculos do Valor. O restante pode ser utilizado para adquirir os papéis dos acionistas detentores de outros 30% de participação na Vale do Rosário (Cícero e Luís, que já tinham 20%, adquiriram outros 50% no exercício de preferência, totalizando 70%). A expectativa é de que isso ocorra no máximo até o fim deste mês, o que quer dizer que mais dinheiro pode vir a ser injetado na economia de Ribeirão Preto nos próximos dias.

O Valor apurou que os acionistas demoraram a recorrer ao Bradesco porque haviam engatado uma negociação com fundos de investimento em participações (“private equity”), em especial o Governança e Gestão, do ex-ministro Antônio Kandir, e o Gávea, do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. “O problema é que esses fundos precisavam de um prazo mais dilatado para fazer a ‘due dilligence’ (avaliação dos números) da companhia. E o negócio tinha de ser fechado até 26 de fevereiro”, diz uma fonte que participou das negociações. Segundo ela, esses fundos devem entrar em uma fase posterior do negócio, que prevê a fusão com a Usina Santa Elisa. (R.B.)