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Fusão com Santa Elisa deve sair em até 60 dias

A oferta feita pelo Grupo Cosan, maior do país, pela compra das ações de um grupo de acionistas da Cia. Açucareira Vale do Rosário, de Morro Agudo (SP), aguçou sentimentos de amor e ódio na usina. A proposta, apresentada pela Cosan no fim de janeiro, previa a aquisição de 50,02% do controle da empresa, mas foi encarada por alguns como “ousadia demais” de seu controlador, Rubens Ometto.

Considerada uma das mais eficientes usinas do país, a Vale do Rosário era estratégica para a Cosan porque marcaria a entrada do grupo na região de Ribeirão Preto, onde a companhia ainda não está presente. Além disso, segundo o Valor apurou, o controlador da Cosan, Rubens Ometto, planejava que, a partir da união das duas empresas, ele poderia listar a nova companhia na Bolsa de Nova York e, em seguida, pulverizar seu controle, aproveitando o grande interesse externo no setor de açúcar e álcool. “O Ometto tem um problema de sucessão e essa seria uma excelente saída para ele.”

Os planos da Cosan, contudo, foram frustrados. A direção da Vale do Rosário se mobilizou e conseguiu um financiamento de R$ 1,35 bilhão do Bradesco para exercer o direito de preferência pela compra dessas ações nas mesmas condições apresentadas pela Cosan.

Cícero Junqueira Franco, vice-presidente da Vale do Rosário e um dos fundadores do Proálcool na década de 70, diz com uma pontinha de orgulho que a Vale do Rosário “é uma noiva muito cobiçada, mas não é qualquer um que leva”. Além da Cosan, a Vale do Rosário foi assediada pelas multinacionais Bunge e Cargill e alguns fundos de investimentos, como o GG, do pelo ex-ministro Antonio Kandir, e a Gávea, do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.

A oferta pelas ações da Vale do Rosário feita pela Cosan desencadeou uma saída em massa dos acionistas da usina, interessados em se desfazer de sua participação no negócio. Fundada em 1964, por um grupo de pequenos agricultores, a Vale do Rosário contava inicialmente com 130 acionistas. Os principais são o empresário Luiz Biagi, da tradicional família Biagi, controladora da Cia. Energética Santa Elisa, de Sertãozinho (SP), e Cícero Junqueira Franco, que juntos possuem quase 20% de participação.

No dia 27 de fevereiro, 72 acionistas se desfizeram de suas ações. “Agora estamos nos reestruturando para saber se os acionistas restantes ficarão na empresa”, afirma Junqueira Franco. Há possibilidade dos acionistas que ficaram nesta primeira etapa, saírem do negócio ou até mesmo aumentarem sua participação na usina. “Estamos agora nos organizando para fazer a fusão com a Santa Elisa”, diz.

No final do ano passado, a Vale do Rosário e a Santa Elisa iniciaram conversas para uma fusão de suas atividades, criando uma nova gigante do açúcar e do álcool. Dessa fusão, será criada uma nova empresa, que deverá abrir seu capital. Na primeira etapa da operação, participam da fusão as usinas Vale do Rosário, Santa Elisa, Jardest, MB e Continental, todas de São Paulo, que juntas processam mais de 20 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.

Segundo Junqueira Franco, a Vale do Rosário está sendo assessorada pelo banco Rabobank e pelo escritório de advocacia Xavier, Bernardes e Bragança. A Santa Elisa está sendo assessorada pelo ING e pelo escritório Pinheiro Neto. “A fusão sai em menos de 60 dias.”