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Febre do etanol valoriza as pesquisas da CanaVialis

O interesse global na expansão da produção de biocombustíveis aumentou o apetite das empresas que desenvolvem tecnologias voltadas para cana-de-açúcar. Nessa corrida, a CanaVialis, controlada pela Votorantim Novos Negócios, quer se manter à frente no segmento de pesquisas para o setor canavieiro. A empresa já expandiu em nove vezes seu raio de atuação em 2006 e amplia as negociações com investidores estrangeiros para o fornecimento de variedades convencionais e transgênicas.

Hoje, a CanaVialis mantém contratos apenas com usinas brasileiras para a venda de pacotes tecnológicos, que incluem o fornecimento de variedades desenvolvidas pela empresa e assistência técnica para manejo visando à melhoria do rendimento em campo. Segundo Ricardo Medeiros, presidente da CanaVialis, a empresa começou 2006 atendendo uma área de 120 mil hectares de cana. Em janeiro último, prestava serviços para usineiros em 940 mil hectares. Cerca de 10% das variedades de cana produzidas no Brasil já têm tecnologia da CanaVialis.

“Tem muita gente interessada em entrar neste negócio, daí a decisão de criar pólos regionais de pesquisas no Maranhão (Balsas), oeste paulista, Paraná e Triângulo Mineiro”, afirma Madureira. Em junho de 2006, a empresa fez parceria com o Cosan, maior grupo sucroalcooleiro do país, para a instalação de um pólo de pesquisas em Araçatuba (SP), onde já testa em campo 1,05 milhão de “seedlings” – nome dado à muda resultante do cruzamento de duas variedades de cana. Para se ter idéia, na África do Sul, um dos principais países que pesquisam cana, toda a pesquisa é feita com 130 mil mudas. Na Austrália, são 150 mil mudas.

“O que as usinas buscam é produzir mais açúcar por hectare e uma cana que tenha boa colheitabilidade mecânica”, afirma Madureira. Em 2006, a CanaVialis testou em Araçatuba 1.500 clones de variedades com alto nível de Açúcar Total Recuperável (ATR). A expectativa da empresa é lançar essas variedades em 2009. “Grande parte desses lançamentos serão variedades para colheita precoce e com alto nível de ATR, o que ajuda a alargar a janela de colheita e produzir mais açúcar no início da safra”. A empresa também deve lançar até 2009 variedades que produzem de 50% a 60% mais sacarose que as encontradas hoje no mercado.

Para o longo prazo (pós 2010) , a empresa desenvolve variedades de cana ricas em fibras, para o aproveitamento da celulose na produção de álcool. “As usinas já começam a buscar essa tecnologia. Se a indústria conseguir converter 10% ou 20% da celulose em biomassa já é um grande ganho energético”, diz Madureira. Ele estima que tais variedades estejam disponíveis em cinco anos.

Na área de biotecnologia, a CanaVialis testa em campo, em Conchal (SP), uma variedade transgênica que produz até 70% mais sacarose por hectare. Também desenvolve variedades transgênicas resistentes ao vírus causador do mosaico e à seca. A Votorantim Novos Negócios planeja investir até US$ 15 milhões por ano em projetos da CanaVialis e da Alellyx – outra empresa de pesquisas do grupo – nos próximos anos.

Segundo Madureira, a CanaVialis tem recebido propostas de investidores e empresas internacionais. O apetite estrangeiro, diz o executivo, cresceu muito desde o fim de 2005, com a maior preocupação sobre o aquecimento global e a decisão dos EUA de diversificar sua matriz energética com biocombustíveis.

Conforme Madureira, a maior parte das propostas estrangeiras vem de produtores das Américas Central e do Sul, Caribe, África do Sul e Moçambique. “Os EUA têm cerca de 200 mil hectares de cana na Flórida e em Louisiana. Os americanos não buscam pesquisa aqui, mas investimentos potenciais em usinas brasileiras”. Ele diz que que também recebeu propostas de grupos estrangeiros para pesquisas conjuntas. “Cooperações podem acontecer. Mas hoje estamos em posição relevante no mercado e nossa meta principal são os royalties”, afirma.