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Reunião da OEA discutirá biocombustível

O debate sobre o etanol se transformará em uma questão continental. A Organização dos Estados Americanos (OEA) decidiu colocar a discussão sobre o biocombustível como um dos principais temas da agenda de sua reunião anual, em junho, no Panamá. Com isso, o encontro pode acabar sendo palco para um enfrentamento entre a estratégia da Venezuela e a dos EUA.

A OEA decidiu incluir o tema no encontro anual com base nos acordos que Brasil e EUA vão assinar na semana que vem, na visita que o presidente George W. Bush fará a São Paulo. O próximo passo, de acordo com a organização, será incluir os demais países do continente nas negociações sobre o etanol.

Funcionários da OEA explicam que os altos preços do petróleo têm exercido pressão extra sobre os países mais pobres da região que são importadores de combustíveis. Por isso, o encontro de junho terá como seus dois temas principais a dependência do petróleo na região e a busca e o uso de alternativas sustentáveis, como o etanol.

Para especialistas, porém, a reunião pode ser tomada por uma disputa entre a Venezuela do presidente Hugo Chávez, que busca ampliar sua influência entre os países pobres com a exportação de petróleo a preços acessíveis, e os EUA, que gostariam de usar o etanol e o próprio Brasil como forma de conter a estratégia de Chávez.

Por isso, os EUA insistem em que o Brasil deve ser visto como um modelo para os demais países latino-americanos que precisam importar combustível.

A avaliação é de que o desenvolvimento de um modelo baseado no etanol poderia minar a estratégia de Chávez. Entre os especialistas americanos, a ênfase é a de que o uso de biocombustível garantiria a independência energética de países da região que hoje são vulneráveis à eventual ofensiva de Chávez.

Diplomatas americanos observam com preocupação os apoios políticos que a Venezuela conquista com base nos acordos energéticos com países da região. Chávez, argumentam, tem se aproveitado dos lucros obtidos com o combustível para financiar uma diplomacia do petróleo na América Latina.

No início da semana, Chávez criticou o uso do modelo baseado no etanol em conversa com o presidente de Cuba, Fidel Castro. Ele avaliou que a substituição do petróleo por um produto agrícola poderia ter efeito negativo para o combate à pobreza.

Já na estratégia dos EUA, a promoção do uso de biocombustíveis na América Latina será acompanhada por um discurso de que esse modelo é fundamental para diminuir a pobreza, criar postos de trabalho e ainda reduzir a insegurança de abastecimento energético, para que a região possa crescer a taxas equivalentes às da Ásia.