Para o embaixador, Itamaraty tem um sentimento pró-Brasil como State Department é pró-Estados Unidos. O novo embaixador do Brasil em Washington, Antonio Patriota, negou ontem que haja um sentimento antiamericano no Itamaraty e disse que a relação entre os dois países atravessa uma fase de “amadurecimento”. “Na minha opinião o que há é um sentimento pró-Brasil na chancelaria brasileira, como há um sentimento pró-Estados Unidos no State Department (Departamento de Estado)”, disse Patriota a jornalistas na sede da embaixada.
Ele fez as declarações ao comentar o depoimento de seu antecessor em Washington, Roberto Abdenur, que reiterou ontem, em audiência no Senado, a existência de um sentimento anti-EUA na diplomacia brasileira. Segundo Abdenur, essa postura prejudicaria as exportações brasileiras aos EUA, por exemplo.
Patriota respondeu dizendo que todos os parceiros comerciais dos EUA perderam terreno nos últimos anos devido à investida da China no mercado norte-americano. Para ele, a anunciada cooperação na área de biocombustíveis entre os dois países, a convergência em relação ao Haiti e a busca de diálogo na Rodada de Doha na Organização Mundial de Comércio (OMC) são alguns exemplos da fase de “amadurecimento” que vive a relação. “As divergências tópicas não comprometem o estabelecimento de parcerias em torno de assuntos de importância estratégica, não só para o relacionamento bilateral entre os dois países, mas para a região e para comunidade internacional.”
Credenciais e visita
O novo embaixador entregou ontem suas credenciais ao presidente George W. Bush em Washington, junto com novos embaixadores da região, como do México, Suriname e Nicarágua. Ele e Bush conversaram sobre a visita do presidente norte-americano ao Brasil. Patriota disse que Bush deve encontrar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã do dia 9 e rumar para o Uruguai depois do almoço. Na noite anterior, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, oferecerá um jantar para a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice. Como resultado da viagem, deve sair somente um memorando bilateral de cooperação na área de biocomustíveis, afirmou.
Na outra ponta, Patriota reforçou que a visita de Lula a Washington, no dia 31 de março, se dará num “contexto íntimo”, já que ambos se reunirão num sábado na residência de Camp David, algo raro para um presidente da região. O embaixador, de 52 anos, muito próximo ao ministro Amorim, comandará uma representação do Brasil no exterior pela primeira vez. Antes disso, atuou em missões do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU) e em Genebra.
Integração regional
Na última sexta-feira, Patriota reuniu-se com o ex-diretor Nacional de Inteligência dos EUA, Nicholas Negroponte, que acaba de assumir o segundo posto no Departamento de Estado. Ambos conversaram sobre as perspectivas dos EUA no Iraque e Oriente Médio, a relação “construtiva” dos países na OMC e a estabilização do Haiti, onde tropas do Brasil lideram uma missão da ONU. Em relação à América Latina, onde o presidente venezuelano Hugo Chávez busca ser um contraponto às políticas de Washington, Patriota disse que há discussões entre os presidentes sobre países “específicos”.
Indagado sobre o tom das conversas sobre a Venezuela, o embaixador afirmou que essa é uma preocupação constante nas autoridades americanas. “O mais comum é que Venezuela seja sim mencionada no contexto dessa avaliação de situação regional”, disse. “E o que nós temos dito sempre é que a integração traz com ela não só benefícios econômicos, comerciais, de interesse das populações de países da região, mas também pode ser vista como um fator de promoção da estabilidade e de aprofundamento da democracia”, acrescentou.
kicker: Abdenur reiterou ontem, em audiência no Senado, a existência de um sentimento anti-Estados Unidos na diplomacia brasileira