Este ano, a co-geração de eletricidade a partir do bagaço de cana faz 20 anos. Mas o País só usa 860 megawatts (MW) dos 8 mil MW do potencial (dois terços de Itaipu). Essa energia deveria ser leiloada a até R$ 180 o MWh, porém, não se arremata por mais de R$ 130. Assim, das 147 usinas paulistas, apenas 20 participam da venda de excedente de energia.
Para o engenheiro Arthur Padovani Neto, do grupo que em 1987 fez a primeira ligação com a rede pública, da Usina São Francisco, o entrave é a falta de regulação do sistema por parte do governo. Por exemplo, a verba para financiar a co-geração, que custa US$ 40 milhões, só é liberada se a obra estiver pronta, mas o certo seria o financeiro acompanhar o físico, diz.
Descompassos como este aparecem em todo o ciclo da cana. Gerci James Soares é da equipe que construiu as primeiras colhedoras de cana crua, que chegaram às lavouras em 1993.
Hoje, na Multirental Shark, concessionária da Case New Holland, ele alerta para a falta de técnicos capazes de operar estas máquinas. Entramos na era mecatrônica. Saber apertar parafuso não é o mesmo que dominar a linguagem dos chips. No meio da última safra, ele precisava de 120 operadores; em quatro meses, conseguiu dois.
Fernando José Balbo, diretor agrícola da Usina São Francisco, de Sertãozinho (SP), diz que a falta de pessoal é o maior obstáculo para uma empresa. Tudo evoluiu, menos a qualificação do trabalhador. Para processar um milhão de toneladas em 2008, precisamos treinar 150 operários e 200 rurícolas já, diz. Terminamos 2006 oferecendo salários de R$ 2.300 para mecânicos hidráulicos e de R$ 3.600 para mecatrônicos, mas não achamos.
A colhedora pára no canavial e não há quem a faça andar, alerta Soares. São mais de 1.500 unidades no País, que custam R$ 900 mil, e algumas podem colher quase mil toneladas de cana por dia. As usinas procuram suprir essa necessidade com o programa Menor Aprendiz, conta o agrônomo Sérgio Luiz Selegato, gerente da divisão agrícola da Usina da Pedra, da cidade de Serrana. Recrutam jovens nas famílias dos funcionários, que irão passar quatro horas na empresa e quatro no Senai. Quarenta já se formaram: 20 em mecânica e 20 em química. Enquanto estudam, têm a certeza do emprego garantido e uma bolsa no valor de um salário mínimo. É bom ver o carinho e o orgulho que eles demonstram, afirma Selegato.