As usinas sucroalcooleiras do centro-sul do país devem intensificar nesta entressafra (janeiro a abril) o reprocessamento do álcool anidro para hidratado. Esta conversão é muito comum nas usinas e reflete os preços mais remuneradores do hidratado (usado direto como combustível) sobre o anidro (misturado à gasolina) desde o final do ano passado, segundo analistas ouvidos pelo Valor.
Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que o álcool hidratado remunerou 4% mais que o anidro, na semana encerrada no dia 5 de janeiro. Na semana anterior, os preços do hidratado estavam 3% mais atraentes sobre o anidro.
Desde o final de 2006, os preços do hidratado passaram a remunerar melhor que o anidro, segundo o Cepea. O litro do hidratado fechou na semana passada a R$ 0,86799 (sem impostos e fretes), 3% mais que na semana anterior. O anidro encerrou no período a R$ 0,87802, com alta de 1,4%. Em relação ao mesmo período do ano passado, os preços do litro do hidratado registram queda de 16%, enquanto os do anidro, de 19%.
Apesar dos recentes aumentos, observados a partir do final de dezembro, depois de um período de estabilidade, o abastecimento com álcool é viável em São Paulo, cuja paridade de preços está em 54,5%. Acima ou próximo a 70%, a gasolina passa a compensar. Levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostra em oito Estados, sobretudo no Norte do país e parte do Nordeste, a paridade do álcool com a gasolina está acima de 70%. Em outros oito Estados a paridade está acima de 65%, o que já acende uma luz amarela para o álcool. O restante está entre 60% e 65%, e somente em São Paulo está abaixo de 60%.
Neste momento, os estoques de álcool combustível estão em 4,6 bilhões de litros, dos quais 50% anidro e 50% hidratado, de acordo com Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). “A conversão de álcool anidro para hidratado é muito comum e já ocorre em algumas usinas”, disse.
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Na usina Guaíra, na cidade de mesmo nome no interior de São Paulo, a destilaria está preparada para converter o anidro em hidratado a qualquer momento, informou uma fonte da empresa. Segundo a mesma fonte, “a usina vai esperar os sinais de mercado [de preços] para tomar a iniciativa”.
Marcelo Andrade, da Ecoflex Trading, observou que muitas distribuidoras de combustíveis estão fora do mercado nos últimos dias. “Essas empresas estão esperando que os preços do álcool se acomodem”, disse. Segundo Andrade, algumas usinas ofertaram hidratado a R$ 1,40 (o litro), um aumento de 27% sobre a semana anterior. O anidro está ofertado a R$ 0,93.
De acordo com Andrade, se os preços do álcool combustível não se acomodarem nos atuais patamares, o abastecimento nos carros flex fuel e álcool estarão comprometidos a partir de fevereiro.
O governo ameaçou reduzir o teor de álcool na gasolina dos atuais 23% para 20%. Uma fonte do Ministério da Agricultura, contudo, afirma que foi apenas uma ameaça para evitar novas escaladas de preços do álcool como ocorreu nas últimas três safras.
