Impulsionadas pelo aumento do consumo e pelos preços interno e externo, as plantações de soja e de cana-de-açúcar estão avançando em áreas de pastagens e tomando o lugar da pecuária, segundo o IBGE. O instituto informou ontem que o rebanho bovino brasileiro atingiu 207,16 milhões de animais em 2005, uma expansão de apenas 1,3%, a menor desta década e abaixo da média de 1,4% dos anos 90. Mesmo assim, o país continua tendo o maior rebanho comercial do mundo e assumiu o primeiro lugar no ranking em receita de exportação de carne, superando a Austrália.
O Brasil já era o maior em volume de carne vendida no mercado internacional desde 2003. Mas de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), no período de janeiro a novembro deste ano, as vendas — com exceção de miúdos de carne — também aumentaram 27,27% em valor sobre igual período de 2005. Com isso, elas somaram US$3,475 bilhões, contra US$3,374 bilhões da Austrália.
Rebanho brasileiro de suínos atingiu 34 milhões
Com esse desempenho, de acordo com o presidente da entidade, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, o país deve encerrar 2006 com exportações de aproximadamente US$4 bilhões, um recorde histórico.
— A tendência é de o rebanho passar a não crescer muito, porque a pecuária brasileira está ganhando produtividade. No passado, os animais eram abatidos com quatro anos e, agora, com 24 meses — disse Pratini.
Segundo ele, o mais importante não é o país brigar para ser campeão mundial em quantidade. O desafio é elevar o valor vendido. Este ano, até novembro, o volume exportado atingiu 2,1 milhões de toneladas, 10,74% a mais do que em igual período de 2005. Ou seja, pesou mais o aumento do valor do que o da quantidade.
Essa performance, explicou Pratini, foi decorrente dos investimentos em marketing no exterior para tornar o produto brasileiro mais conhecido, da diversificação de mercados (de 160 países em 2005 para 180 este ano), da melhoria dos preços, da venda de produtos de maior valor agregado (como carne resfriada e cortes especiais).
Segundo ele, as restrições à importação da carne brasileira, ocorridas em 2006, praticamente ficaram para trás. O problema maior continua sendo o Chile, que mantém embargo para todo o país, com exceção do Rio Grande do Sul. Em 2005, problemas fitossanitários e redução da rentabilidade das exportações, provocada pela valorização cambial, contribuíram para a perda de dinamismo da pecuária que vinha crescendo substancialmente no início da década.
Os problemas no mercado internacional levaram o setor a redirecionar parte da produção para o mercado interno, em 2005, o que contribuiu para manter os preços da carne baixos e para conter a inflação no país. Pratini não acredita que os novos aumentos das vendas externas causem altas de preços internos. Já o gerente de Pecuária da Coordenação de Agropecuária do IBGE, Octávio Costa de Oliveira, não descarta essa possibilidade.
— Não posso afirmar que a desaceleração no crescimento do rebanho, somada ao aumento que vem ocorrendo no preço do garrote, vai provocar aumento dos preços da carne no país. Mas pode ser que isso aconteça, se as exportações voltarem a crescer— analisou Oliveira.
Os dados sobre os rebanhos e a produção animal em 2005 fazem parte da pesquisa Produção da Pecuária Municipal, realizada pelo IBGE em 5.564 municípios do país. Revelam, ainda, que produção de leite avançou 4,7% em 2005, atingindo 24,6 bilhões de litros, puxada por Minas Gerais, o maior produtor, com 28,1% do total. A produtividade passou de 1.172 litros por vaca ao ano para 1.191 litros por vaca por ano, ainda muito abaixo dos 12 mil litros médios desejados, e muito aquém dos 18 mil litros alcançados por alguns estabelecimentos. Já o rebanho de suínos atingiu 34 milhões de unidades em 2005, um aumento de 3% em relação a 2004.