Assim como os principais fornecedores de insumos para o agronegócio, as empresas de defensivos agrícolas estão usando a estratégia de negociar caso a caso as dívidas de R$ 3 bilhões existentes entre os produtores e as indústrias do setor. Segundo Antônio Carlos Zem, presidente do presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos Para Defesa Agrícola (Sindag) e também da FMC Agricultural Products, que concedeu hoje entrevista ao vivo ao AE Agronegócios, esse é o único segmento que fornece aos agricultores um longo prazo para pagamento das vendas. “Se vende entre seis e doze meses e se você considerar a rolagem das dívidas esse prazo é muito mais longo, o que implica num custo de capital de trabalho muito grande para nossa indústria”, disse Zem. Em sua avaliação, as empresas multinacionais talvez sejam as que enfrentam as maiores dificuldades, pois precisam justificar suas estratégias junto às matrizes no exterior. Segundo Zem, as notícias que chegam do agronegócio brasileiro lá fora fazem com que as empresas questionem a viabilidade do negócio, particularmente da soja no Estado do mato Grosso. “Portanto, as matrizes têm nesse momento uma posição de cautela e nós que gerenciamos os negócios no Brasil temos uma dificuldade enorme de explicar essa situação toda”, disse Zem. Apesar da cautela das matrizes das multinacionais, o presidente do Sindag acredita que já nessa safra que está terminando de ser plantada já será possível ver alguns sinais de melhoria, com uma recuperação mais efetiva aguardada para 2008. “É possível que alguns investimentos tenham sido adiados, pois as empresas estão esperando um pouco mais para que se defina esse cenário, principalmente se ele for ligado ao cultivo da soja. Para a indústria, precisamos ter uma agricultura forte, pois para nós uma agricultura fraca não ajuda ninguém”, afirmou.
O presidente Sindag disse que o setor se sentirá feliz se em 2007 o resultado obtido pelo setor for o mesmo registrado em 2006, principalmente para a soja, que representa 46% das vendas das indústrias de defensivos. Isso porque, os produtores de soja estão reduzindo as áreas em aproximadamente 1,5 milhão de hectares e usando menos tecnologia. Na avaliação de Zem, existe um grupo, que representa de 28% a 30 dos produtores, que estão razoavelmente bem, pois não expandiram excessivamente suas áreas. Além disso, existe um bloco intermediário “sobrevivendo”, rolando suas dívidas e obtendo novos créditos. “E nós temos e nós temos uma porção de 25% a 30% que estão totalmente inviabilizados. Esses vão estar fora do negócio”, disse Zem. Para evitar que um cenário como o atual se repita no futuro, o presidente do Sindag diz que as empresas estão trabalhando na gestão rural, dentro das propriedades. “Muitos produtores cresceram na euforia, com uma soja a US$ 17 o saco e um câmbio a R$ 3,40. Era um momento excepcional”, disse Zem, ao lembrar que essa é uma ação para solucionar os problemas no longo prazo. No curto prazo, Zem afirma que as empresas estão contribuindo com os produtores para que eles consigam acessar as linhas de crédito rural e fazendo parceria com traidings para facilitar o escoamento da produção, além de fazer a intermediação dos produtores com representantes do governo e dos bancos. “Agora, isso não é um processo simples porque ninguém quer perder dinheiro. O banco não quer dar recursos para os agricultores que estão inviabilizados e exigem um aval das empresas. As nossas empresas já estão com os R$ 3 bilhões de dívidas, não podemos assumir o lugar de banco e assumir todo esse risco como empresa”, disse.
Zem disse que as trocas de insumos por produtos têm sido uma alternativa para que as empresas viabilizem negócios com os produtores. “Nós estamos vendo esse mecanismo crescer muito na cultura do algodão, o que tem ajudado inclusive a aumentar a participação do algodão brasileiro no mercado internacional”, disse Zem, lembrando que esse processo já é utilizado pelos produtores de soja em larga escala e que alguns movimentos com etanol também já começam a surgir. “Eu espero que no futuro o milho possa fazer parte desse movimento também”. Para Zem, a cana-de-açúcar vive um momento de euforia, pois está ligada ao etanol e aos preços internacionais do açúcar. “A cana está se expandindo e acredito que essa expansão vai até 2010/11”, disse. Em sua opinião, a viabilidade do etanol está ligada a uma cotação do petróleo a US$ 40 o barril. “Se esse preço ficar abaixo de US$ 40 ele começa a ter um problema de viabilidade. Mas acreditamos em um petróleo se sustentando num patamar de US$ 55 a US$ 65”, disse. O presidente do Sindag disse ainda que a contribuição que o setor de cana-de-açúcar vem dando para a sociedade, principalmente em defesa da parte mais pobre da população é muito grande. “Se não houvesse a pressão do biodiesel e do etanol no petróleo nós poderíamos estar com o barril a US$ 100”, disse.
O presidente Sindag disse que as indústrias do setor estão se articulando para atender a forte a demanda do setor de cana-de-açúcar, que está em firme expansão. Para Zem, o setor está investindo nas unidades produtoras de herbicidas e inseticidas especificamente para o cultivo da cana-de-açúcar. Segundo Zem, não se desenvolviam produtos especificamente para a cana-de-açúcar, pois se buscava os grandes mercados agrícolas. “As empresas aqui no Brasil e os próprios agrônomos brasileiros é que tomavam produtos de outros cultivos e adaptavam à cultura da cana. A indústria de defensivos agrícolas certamente está correndo atrás para tentar fornecer às usinas, engenhos e agricultores o produto necessário, mas está sendo uma batalha. Nós estamos apertados no momento, porque a expansão está sendo muito forte”, explica Zem. Para o presidente do Sindag, não é somente o setor de defensivos que sofre a pressão da demanda. “Isso também ocorre em outros segmentos, inclusive na montagem das usinas que vão processar a cana-de-açúcar”, afirma. Zem considera que há uma certa euforia do lado do fornecedor de cana, “nos preocupamos porque, eventualmente, não tenha indústria para moer esta cana, podendo gerar uma sobra de cana que venha a afetar os fornecedores”. Por isso, diz ele, os segmentos estão em alerta. “Procuramos alertar os agricultores para que o aumento da oferta venha acoplado a um aumento da capacidade industrial”.
O presidente do presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos Para Defesa Agrícola (Sindag), Antonio Carlos Zem, também presidente da FMC Agricultural Products, disse hoje em entrevista ao vivo ao AE Agronegócios que concorda com a avaliação dos analistas de mercado que acreditam que a recuperação do milho, por conta da demanda por etanol, deve apresentar reflexos no mercado brasileiro. “É impressionante o aumento que houve no preço do milho no mercado internacional”, diz ele. Segundo Zem, atualmente, estão sendo construídas 35 unidades para a produção de etanol de milho em grandes áreas agrícolas. Para ele, o país percebeu o efeito da grande dependência do petróleo, tanto do ponto de vista econômico como estratégico. Em um dos cenários projetados pelo Sindag, o milho deve ser mais usado para a produção de etanol nos Estados Unidos. “Com isso, o país deve deixar uma lacuna no mercado internacional, o que vai facilitar a exportação de milho brasileiro”, explica Zem. Segundo ele, o Brasil já está aumentando as vendas e este “é o momento para elevar as vendas externas”. Para ele, os EUA deverão aumentar a área de milho e de soja, para a produção de biocombustíveis, mas o avanço será insuficiente, por isso, haverá uma recuperação das exportações brasileiras. Zem considera que a safrinha de milho ainda não deve refletir estes efeitos. Na projeção do Sindag, a safrinha pode crescer entre 10% a 15%, devido à demanda interna e aos preços melhores. Mas segundo ele, o reflexo deve ser notado a partir de 2008, à medida que os Estados Unidos restrinja sua colocação de milho no mercado internacional, em função da demanda de etanol.
Para Antonio Carlos Zem o avanço dos transgênicos no Brasil provoca mudanças no setor. “O aumento do uso de organismos geneticamente modificados provocará mudanças no mercado. Nos Estados Unidos, por exemplo, há o retorno de vários herbicidas porque algumas ervas se tornam seletivas às técnicas empregadas”, explica. Segundo ele, estes movimentos criarão novas oportunidades e o desenvolvimento de novas técnicas. “Certamente haverá um deslocamento e as empresas mais ágeis devem se destacar, à medida que avance o uso de transgênicos não somente na soja, como no algodão e no milho”. Zem reconhece que pode haver uma relação entre a queda de faturamento e o avanço dos transgênicos. A retração é sentida especialmente na soja, também por conta da redução da área e uso de tecnologia. Mas ele considera que o mercado não está diminuindo porque o algodão e a cana estão expandindo neste ano e lembra que “a própria ferrugem comandou um crescimento do setor nos últimos três anos”. Dessa forma, ele acredita que exista uma certa compensação no mercado. “Mesmo com a entrada dos transgênicos, o setor deve manter o crescimento. Talvez não seja tão vigorosa, mas deve manter um ritmo de 5% a 6% ao ano”, estima. Ele observou que a questão do marco regulatório afeta empresas que estão ociosas, mas já preparadas com tecnologia dominada e pronta para comercialização. Segundo ele, a demora no processo não é entendida facilmente pelas matrizes. Zem afirma que o setor passa por uma espécie de “apagão regulatório”, porque há uma sobrecarga de trabalho e poucos recursos disponíveis para as autoridades que realizam os registros. Ele explica que ao aplicar o pedido nos Estados Unidos, a agência regulatória indica um prazo de um ano para liberar os registros. Já no Brasil o prazo, definido por lei para obtenção do registro é de um ano, mas ocorre que para as empresas conseguirem estes registros, há casos de empresas que duram entre três a quatro anos.