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Lei limita plantio de cana em Rio Verde (GO)

Empurrado pelos bons preços do álcool, aumentou o interesse em plantar cana-de-açúcar. Menos para a prefeitura de Rio Verde, em Goiás, que resolveu limitar o avanço das plantações de cana no município.

Saú Lima é mais um agricultor que se rendeu ao plantio da cana, depois de amargar prejuízos com o algodão.”Com soja e milho, a gente não paga os prejuízos que tivemos com o algodão. Hoje, só cana dá conta de pagar essa conta”, ele diz.

Em Goiás, a área plantada aumentou 17% em um ano. Quinze usinas estão instaladas e outras 12 em fase de implantação.

Mas no cerrado, a cana-de-açúcar ameaça uma cadeia produtiva já consolidada: por causa da soja e do milho, Rio Verde recebeu investimentos para a produção de óleo, criação de aves e suínos, e implantação de frigoríficos e armazéns.

“A médio e longo prazo, se continuar assim, o setor de armazém e outros segmentos vão sentir bastante.”, diz o presidente do sindicato dos armazéns-gerais de Goiás, Pedro Adalberto Tasinaff. Foi esse medo que fez a prefeitura criar uma lei limitando o espaço da cana Os canaviais só podem ocupar 10% da área destinada à agricultura no município.

Como o limite não é por fazenda, quem chegou primeiro acabou sendo beneficiado, já que a cota está quase toda preenchida. A prefeitura promete ainda contratar até fiscais que vão poder multar quem insistir em não cumprir a lei.

A iniciativa teve o apoio de 47 entidades de classe. O prefeito diz que a medida é para preservar outros setores da economia. “Eu temo a interrupção do modelo de desenvolvimento que nós temos hoje, da multiplicidade econômica. Ficar na mão de um só nunca foi bom pra ninguém, e não vai ser para o meu município”, justificou o prefeito, Paulo Roberto Cunha.

O sindicato das usinas de álcool de Goiás criticou a lei. “61% da área plantada em Goiás é soja, 17% é milho, e somente 7% de cana. Se a gente dobrar de tamanho, ainda vamos ficar muito pequenos em relação a área de grãos. Rio Verde está indo na contramão de todo um movimento da agroenergia que ocorre não só no país, como em todo o mundo”, afirmou Igor Montenegro, do Sindicato da Usinas de Álcool.

“Ela tem nítido cunho de garantir uma reserva de mercado, ao que tudo indica, para produtores de outras culturas, fornecedores de insumos de outras culturas. Nesse aspecto, então, estaria ferida a competência que o município tem para editar leis nesse sentido. Estaria sendo ferida a Constituição”, afirmou o advogado Alexandre Limiro.

“Com isso, há um desânimo, porque nós estamos numa fase embrionária, procurando investidores para a região”, completa o agricultor Mauro câmara. “Se não houver uma harmonia entre nós, proprietários, e a prefeitura municipal, é claro que nós vamos ficar prejudicados”.