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Mistura de álcool na gasolina sobe para 23%

1 de Novembro de 2006 – O governo preferiu ser conservador no aumento da mistura de álcool à gasolina e elevou em apenas três pontos, de 20% para 23%. Usineiros pediam aumento para 25%. O diretor do departamento de cana-de-açúcar e álcool do Ministério da Agricultura, Angelo Bressan, observou que a decisão foi influenciada pela crise de abastecimento ocorrida no início de 2006. “A precaução tem um pouco a ver com o que aconteceu este ano”, admitiu.

A decisão foi tomada em reunião no Palácio do Planalto ontem com representantes do Ministério da Agricultura, Fazenda, Desenvolvimento, Minas e Energia e Casa Civil. A medida começa a vigorar em 20 de novembro. Conforme Bressan, o aumento atende ao pedido do setor sucroalcooleiro que pleiteava mudança na mistura na proporção diante da nova safra de cana-de-açúcar.

“Foi uma vitória parcial”, declarou ontem o presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), José Carlos Toledo, referindo-se à decisão anunciada ontem pelo governo. Para ele, a cautela se deve ao fato de haver ainda incerteza quanto ao volume da produção nacional de etanol. Há cana suficiente para se alcançar o total projetado para a safra atual. Mas a incerteza em relação às condições do clima tendem a aumentar. A previsão dos institutos de meteorologia é de deverá chover mais 100 milímetros até o fim desta semana. “Se realmente isso ocorrer, vamos ter de interromper o corte da cana, já que não teríamos meios de retirá-la do campo”.

Venda perdida

Para o usineiro Maurílio Biagi, da Usina Moema, a mudança na composição do combustível supera uma dificuldade criada no início do ano, quando o governo reduziu a participação do álcool na gasolina de 25% para 20%. “O governo sempre foi a favor de mais álcool na gasolina. Quando os usineiros subiram os preços para níveis acima do combinado, o setor cometeu um equívoco que acabou custando caro.

Pelos cálculos do usineiro, o setor deixou de vender neste ano cerca de 2 bilhões de litros de álcool no mercado interno. No lugar disso, produziu mais de milhões de toneladas de açúcar e acabou contribuindo para a queda dos preços do produto no mercado internacional em mais de 40%. “Não foi um bom negócio e a situação atual é dificil de ser revertida”. Para ele, é possível que com o tempo, o governo se sensibilize e retorne a mistura de álcool na gasolina para 25%.

Posição confortável

A decisão oficial leva em conta a evolução recente dos estoques de álcool, que estão atualmente em 5,1 bilhões de álcool, e a perspectiva de produção e consumo nos próximos meses. “O estoque é bem confortável e a safra ainda está a caminho”, avaliou Bressan. Apesar disso, nas suas palavras, o governo preferiu ser “conservador” para evitar que a crise seja tão forte como a vista no primeiro semestre de 2006. Ele admitiu, contudo, que a nova proporção poderá ser revista nos próximos meses, conforme a evolução dos estoques. “Se os níveis estiverem confortáveis, o governo poderá rever”, disse.

Bressan lembra que os estoques do combustível atingiram níveis críticos e litro do álcool hidratado chegou a R$ 1,22 na usina e o anidro (misturado à gasolina), que bateu cerca de R$ 1,20. Hoje, os preços estão em aproximadamente R$ 0,75 e R$ 0,85, respectivamente.

Com a decisão, os estoques terão níveis adequados no período mais critico da entressafra, quando devem atingir 614,3 milhões de litros. Nesse nível, o litro deve atingir cerca de R$ 1 tanto no caso do hidratado como no anidro.