Com marcante participação na onda de projetos de construção de usinas sucroalcooleiras que tomou conta do país, a Dedini Indústrias de Base deverá fazer sua estréia no grupo das empresas brasileiras que faturam mais de R$ 1 bilhão por ano em 2006.
Segundo José Luiz Olivério, vice-presidente de operações da companhia, as vendas acertadas já superaram a marca em setembro, e deverão somar R$ 1,4 bilhão no ano. O faturamento deverá ficar em R$ 1,1 bilhão, uma vez que parte dessas vendas só será efetivada a partir de 2007. Em 2005, a Dedini faturou R$ 697,9 milhões; em 2004, R$ 451,2 milhões.
E as perspectivas, adianta Olivério, são das mais otimistas, sobretudo se os projetos de usinas seguirem se multiplicando, uma vez que a Dedini – empresa familiar com sede em Piracicaba, no interior paulista – é a maior fornecedora de equipamentos para o segmento no Brasil.
Acompanhamento da empresa mostra que o número de novas usinas em fase de montagem (já com compras de equipamentos) subiu de 36, no fim julho, para 46 no início de outubro. No mesmo intervalo, passou de 43 para 44 o número de projetos aprovados (com financiamento definido), e de 151 para 172 o total de projetos em consulta.
Conforme Olivério, a Dedini participa, em maior ou menor escala, de todas as usinas em montagem. Desses 46 projetos, 27 têm capacidade para moer 1,5 milhão de toneladas por safra, dez estão acima desse volume e nove estão abaixo. Em média, uma usina para 1,5 milhão de toneladas exige investimentos totais entre R$ 150 milhões e R$ 180 milhões, dependendo de sua eficiência.
Das usinas em fase de montagem, diz Olivério, a maior parte está em São Paulo. Dos projetos aprovados, há uma clara divisão entre São Paulo e o Centro-Oeste, e a maior parte das plantas em consulta deverá ser erguida nos Estados do Centro-Oeste, mais nova fronteira brasileira para a cana.
Assim, a Dedini tem boas perspectivas também para 2007, quando espera faturar R$ 1,6 bilhão. Com dez fábricas no país – quatro em Piracicaba, três em Sertãozinho (SP), duas em Maceió (AL) e uma em Recife (PE) -, a companhia investiu R$ 140 milhões nos últimos quatro anos para acompanhar o crescimento da demanda, e pretende aplicar R$ 80 milhões no próximo biênio. “Temos capacidade de produção. Ainda não implantamos o terceiro turno em nossas fábricas, e podemos promover uma expansão de 30% a 40%. Por isso o foco de nossos investimentos está em melhoria de desempenho e desenvolvimento tecnológico”, afirma Olivério.
Além do segmento de açúcar e álcool – que para a Dedini envolve também co-geração de energia elétrica a partir da queima do bagaço de cana e representa entre 60% e 70% do faturamento -, a empresa fabrica equipamentos pesados e atua nas áreas de alimentos, bebidas, tratamento de efluentes e biodiesel. Nesta última, revela Olivério, há 50 projetos em consulta no país, dez deles em fase de decisão. As exportações da companhia, por sua vez, já representam de 10% a 15% das vendas.
“Temos em consulta 98 plantas no exterior, entre usinas completas, unidades de desidratação de álcool e unidades de produção de álcool anexas a usinas de açúcar”, diz o vice-presidente de operações. Tamanha movimentação no país e no exterior também vem levando a Dedini a contratar. Eram 3,4 mil funcionários em 2005, número que chegou a 3,9 mil neste ano.
Mas há mercado para tanto? Segundo Olivério, sim. Para ele, a “segurança” para os novos empreendimento é mesmo o mercado interno de álcool, com o sucesso dos veículos bicombustível (gasolina e álcool). Ainda que nos carros novos os bicombustível já representem a grande maioria das vendas no Brasil, Olivério observa que a frota total ainda é predominantemente movida a gasolina. No processo de renovação da frota, portanto, é de se esperar um avanço cada vez maior dos flex fuel.
Fora isso, sugere, o que vier é lucro para o país. Nesse “lucro” estão incluídas as exportações de álcool para atender a programas de energia renovável de outros países, em consequência da concorrência com o petróleo e de pressões ambientais.
Para o mercado de açúcar, atualmente com cotações internacionais em declínio, Olivério é menos otimista. Mas nem tanto. Segundo ele, o crescimento da demanda mundial tem sido quase vegetativo, mas o açúcar permanece como a quilocaloria mais barata do mundo, e por isso interessante para países em desenvolvimento. E a queda dos subsídios na União Européia e a pressão por redução de cotas com preços garantidos nos Estados Unidos devem favorecer o Brasil nessa frente.
De olho no mercado de açúcar, a Dedini acaba de fechar um contrato de intercâmbio tecnológico com a sul-africana Bosch Projects, por meio do qual a empresa brasileira poderá fabricar equipamentos de grande porte no país da parceira, e aproveitar no Brasil novos equipamentos desenvolvidos pela Bosch. “A partir da parceria, podemos melhorar nossa atuação em outros países da África”, acredita Olivério. A África do Sul, diz, foi uma grande referência para o Brasil no início do Proálcool, na década de 70.