A corrida para dominar a tecnologia que transforma palha e bagaço de cana-de-açúcar em álcool combustível está bem avançada no Brasil. Com a vantagem de ter a matéria-prima próxima das usinas, característica que não existe em outros países, como os Estados Unidos, que processam palha de milho, arroz e trigo, o custo de aproveitar as sobras seria bem menor. Uma rede de mais de cem pesquisadores de 15 instituições de todo o Brasil investe em conseguir isolar os polímeros de açúcar presentes nestes restos da lavoura, num projeto que tem custo total de R$10 milhões.
É nessa missão de produzir enzimas que está envolvida a professora Elba Bon, do Instituto de Química da UFRJ, a coordenadora científica do projeto:
— O Brasil produz 280 milhões de toneladas de cana por ano. Essa produção gera 39,2 milhões de toneladas de bagaço de cana. Se conseguirmos ter escala industrial nesse processo, aumentaria em um bilhão a produção de litros de álcool, sem aumentar em nada a fronteira agrícola brasileira. — explicou a professora, acrescentando que atualmente o Brasil produz cerca de 13 bilhões de litros por ano.
Desses 39,2 milhões de toneladas de bagaço, quase 90% são usados para gerar energia para as usinas. Mas ainda sobram 4,7 milhões de toneladas que se avolumam ao lado das usinas. Por isso, não existe o custo do transporte:
— É um material volumoso e leve. Se a matéria-prima estiver muito distante do processamento, fica inviável economicamente.
Tecnologia seria dominada em três anos
A tendência, segundo Elba, é aumentar a sobra de bagaço e de palha de cana. O motivo é ambiental. Há exigências de aumentar a eficiência das usinas geradoras de energia. E, num prazo de dez anos, a colheita de cana terá de ser mecanizada, portanto haverá mais palha para ser aproveitada.
— As queimadas estão poluindo muito. E são usadas para colheita manual — explicou a cientista.
Outra vantagem favorável ao Brasil é a forma de fermentação dessa sobra da cana. Para o processo é usado o melaço de cana, o mesmo usado para o caldo da planta.
Os pesquisadores também estão pleiteando dinheiro do Fundo de Tecnologia (Funtec) do BNDES. Energia renovável é outra prioridade estabelecida na linha de inovação.
— É uma questão estratégica para o Brasil avançar ainda mais na vantagem comparativa que já tem no etanol. Há uma corrida internacional na busca dessa tecnologia que seja viável economicamente — explicou Aluysio Asti, do BNDES, que cuidou da implantação do fundo.
Novas tecnologias poderão dobrar produtividade
Segundo Elba, há seis meses os estudos vêm sendo desenvolvidos, com R$3 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Foram pedidos mais R$3 milhões ao ministério, para o pagamento de bolsas:
— Pedimos R$3 milhões ao BNDES para complementar o projeto. Acreditamos que dentro de três estaremos dominando o processo.
Os cientistas afirmam que, ao se dominar essa nova tecnologia no Brasil, a produtividade por hectare plantado de cana-de-açúcar vai dobrar. O projeto é coordenado por Rogério Cerqueira Leite, da Unicamp.