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Magnata da mídia vê futuro no etanol

O bilionário americano e magnata do setor da mídia Ted Turner apontou ontem a produção de etanol como uma alternativa aos subsídios concedidos aos agricultores dos países ricos.

Turner, convidado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) para debater o futuro da entidade em um seminário em Genebra, disse ainda que está estudando possibilidades de investir no etanol.

A idéia de Turner já conquistou a França, que anunciou um plano para introduzir o etanol no país. O projeto prevê que o biocombustível esteja disponível em todos os postos de gasolina franceses em apenas quatro anos. O desenvolvimento do setor do etanol poderia reduzir a dependência de subsídios agrícolas e desbloquear as negociações da OMC.

Na França, a possibilidade do etanol ser uma solução para a agricultura começa a dar seus primeiros passos. Segundo o ministro da Economia da França, Thierry Breton, o país precisa dobrar sua produção de biocombustível em quatro anos. Para 2015, o etanol representaria 10% do consumo nacional de combustível. O setor automotivo também teria de se adaptar, e o governo garante que a Renault já sugeriu que irá adotar motores flexíveis em todos os modelos até 2009. Quem gostou do projeto foi a associação de produtores agrícolas do país. Os franceses acreditam que produziriam o etanol a partir de milho ou mesmo do excesso de vinho. Embora o Ministério da Economia da França esteja mais preocupado em reduzir sua dependência das importações de petróleo, a realidade é que a medida poderá ser a alternativa da agricultura nacional para deixar de depender de subsídios para produzir de forma rentável.

Hoje esses setores existem graças aos subsídios milionários dados pelo governo. Não por acaso, os produtores não aceitam propostas na OMC de cortes dessa ajuda. Sem conseguir vencer a resistência do setor rural nos países ricos, a entidade foi obrigada a suspender as negociações.

Para Ted Turner, é nessa equação que o etanol pode ser a solução. Segundo ele, ao promover o novo uso da produção agrícola, os países ricos poderiam deixar de subsidiar o setor sem que isso prejudicasse os agricultores. O bilionário preside a UN Foundation, criada para administrar a doação de US$ 1 bilhão feita por ele às Nações Unidas.

Turner pediu que o diretor da OMC, Pascal Lamy, passasse a incluir o tema energético na agenda da entidade. Vamos apresentar uma nova variável nas negociações para que sejam destravadas, afirmou, lembrando que enviou cartas ao governo americano e à Comissão Européia. Curiosamente, a única vez em que o tema do comércio de energia chegou a ser tratado na OMC foi a pedido do governo de Hugo Chávez da Venezuela.

Para Turner, o etanol traria lucros para todos se um mercado internacional fosse de fato estabelecido. Não por acaso o ex-presidente Bill Clinton anunciou na semana passada que estava criando um fundo de investimento de US$ 1 bilhão para o setor.

Segundo Turner, o Brasil, maior produtor mundial de biocombustível, não conseguirá fornecer a quantidade que os americanos precisariam consumir. Se o maior produtor não tem como fornecer tudo o que o maior consumidor precisa, isso é o que chamo de oportunidade de negócio, disse o magnata.

Usinas viram atração turística

O interesse de estrangeiros??? pelo etanol só vem aumentando e já transformou as usinas em atrações turísticas. Co-fundadores do site de buscas Google, Larry Page e Sergey Brin vieram ao País em janeiro e visitaram a Cosan, no interior de São Paulo, para ver como é produzido o biocombustível.

O empresário americano Dan Slane, que produz etanol à base de milho nos Estados Unidos, conheceu usinas de Ribeirão Preto, com o mesmo objetivo, em fevereiro. No mesmo mês, um grupo de holandeses combinou carnaval no Rio e visitas aos produtores de açúcar e álcool em São Paulo. Eles estudam importar a tecnologia ou montar indústria no País em parceria com os agricultores brasileiros.

Até postos de combustível brasileiros foram visitados pelo bilionário indiano radicado nos EUA Vinod Khosla, em abril. Para ele, o País é um exemplo de independência energética. Investidor em pesquisa no setor, ele está empenhado em produzir álcool a partir de celulose.

O álcool brasileiro ganhou fama mundial depois que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, citou, em seu tradicional discurso à nação, em janeiro, o sucesso dos carros bicombustíveis no Brasil como uma boa alternativa para acabar com o vício americano em petróleo.

O americano Bill Gates, da Microsoft, já é um dos grandes investidores de seu país no combustível. Colocou US$ 84 milhões na Pacific Ethanol Inc., uma distribuidora e usina de etanol na Califórnia.