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Energia: Nível de reservatórios preocupa especialista

O volume de água dos reservatórios das grandes hidrelétricas está caindo para níveis que o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Conselho Empresarial de Energia da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Adilson Oliveira, considera perigosos. E ele alerta que o País poderá ter problemas de suprimento de energia elétrica já em 2008.f

Não estou dizendo que haverá racionamento e que a situação é irreversível. O cenário vai depender do volume de chuvas nos próximos dois anos e do crescimento da economia. Mas os riscos estão crescendo de forma acelerada, advertiu.

Oliveira apresentou os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostrando que os reservatórios do Sudeste cairão para cerca de 40% no fim do período seco (novembro), abaixo da marca dos últimos dois anos, de 60%. O problema é que o regime hidrológico geralmente ocorre em ciclos. Tivemos um ciclo de chuva nos últimos anos, mas agora há sinais de que estamos iniciando um período mais seco. Na região Sul, a seca foi a mais grave já registrada até hoje.

Ele ressalvou que há tempo para evitar o quadro de escassez. Lamentou, porém, que alertas semelhantes foram realizados em 1999, o que não afastou o racionamento de 2001. Uma das primeiras medidas, para a Firjan, é ampliar o fornecimento de gás para as térmicas. É preciso preservar os reservatórios e, para isso, as térmicas têm de ser acionadas. As usinas não estão operando plenamente devido à falta de gás.

Oliveira sugere que o governo prepare os grandes consumidores, especialmente a indústria e a Petrobrás, para reduzir o consumo de gás natural. Ele lembrou que uma indústria precisa de tempo para mudar seu combustível, mas a Petrobrás poderia adotar a mudança de forma mais fácil, de acordo com Armando Guedes que, além de presidir o Conselho de Energia da Firjan, é diretor da Suzano Petroquímica. Se a Petrobrás quiser, em 24 horas suas refinarias deixam de consumir gás natural e passam a usar diesel ou outro combustível.

O problema dessa substituição, segundo Oliveira, é o custo, já que o gás é mais barato que o diesel. Falta gás natural para as térmicas devido ao custo. Se os preços forem aumentados ele vai aparecer.

A dúvida é quem pagará a conta, pois há relutância da Petrobrás em absorver esse custo extra. Guedes sugere que ele seja distribuído para todos os consumidores.

Para o professor, é quase inevitável que o custo de geração de energia elétrica suba nos próximos anos, já que o País dependerá de mais geração térmica e há restrições para a construção de hidrelétricas. Ele recomenda uma revisão conceitual na administração dos reservatórios. Hoje, a ênfase é garantir o menor custo possível para a sociedade, evitando o despacho (operação) das usinas térmicas. O que proponho é que os reservatórios funcionem como uma espécie de seguro, para minimizar os riscos de racionamento de energia elétrica.