Oeste do estado atrai investimentos por grande oferta de matéria-prima e mercado consumidor. A americana Crow West Company pretende instalar usina de biodiesel de óleo de algodão em Luís Eduardo Magalhães (BA), com previsão de início de funcionamento em agosto de 2007. A empresa aposta no potencial do oeste baiano como fornecedor da matéria-prima e consumidor do biocombustível em tratores usados na produção de soja e algodão na região. A produção de algodão da Bahia, segundo maior produtor nacional, está concentrada na região de Luís Eduardo Magalhães.
“A demanda por biocombustíveis é crescente, e o biodiesel de óleo de algodão é 10% mais econômico que o de soja”, conta o diretor-executivo da empresa responsável pelo relatório de viabilização e implantação da fábrica, Trace Consultoria em Agronegócios, Carlos Freitas. Os investimentos na unidade de biodiesel, que terá capacidade de processar 76 mil toneladas por ano, somam R$ 40 milhões. A planta será flexível, com possibilidade de utilizar também sebo. Os equipamentos serão importados dos Estados Unidos.
A Crow West produz algodão e soja em 17,5 mil hectares em Luís Eduardo Magalhães e vai instalar a fábrica na mesma propriedade. A maior parte da matéria-prima será própria e o restante, comprado de produtores da região. O caroço de algodão produzido pela Crow West é vendido hoje para esmagadoras. A produção de biodiesel será voltada para os produtores de soja e algodão da região.
Em 2005, outro interessado em produzir biodiesel de algodão no oeste da Bahia, a multinacional francesa Dagris, assinou protocolo de intenções com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales de São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). “A Dagris tem interesse em fechar parceria para produzir biodiesel de algodão e mamona em Luís Eduardo Magalhães e Bom Jesus da Lapa. Estamos analisando plano de trabalho conjunto”, diz o presidente da Codevasf, Luiz Carlos Everton de Farias.
A maior parte dos produtores de algodão de Luís Eduardo Magalhães é de grande porte. “A produção de biodiesel na região poderia estimular a integração de pequenos produtores”, afirma Farias. Na avaliação do analista da Safras & Mercado, Miguel Biegai Junior, a instalação de fábricas de biodiesel na região pode contribuir para elevar os preços do caroço de algodão, cuja média é de R$ 200 por tonelada.”Os produtores vendem o caroço de algodão para esmagadoras ou pecuaristas que utilizam a matéria-prima na alimentação de gado de leite”, diz Biegai.
Mesmo contribuindo para aumentar a demanda por caroço, porém, a produção de biodiesel na região não será suficiente para incrementar a produção de algodão. Na safra 2005/06, a produção brasileira de caroço caiu 21,6%, para 1,67 milhão de toneladas, e a de pluma recuou 20,2%, para 1,03 milhão de toneladas. “O produtor produz a cultura por causa da pluma e não do caroço, mas o biodiesel contribui para a redução do custo e para melhor retorno na venda de sub-produtos”, diz o analista. Biegai conta que a produção de biodiesel para consumo próprio em cooperativa de cotonicultores da região poderia resultar em redução de 4% do custo de produção do algodão.
No Mato Grosso, maior estado produtor, a tendência é que a produção de biodiesel de algodão se desenvolva em pequenas indústrias regionais, segundo João Luiz Ribas Pessa, do conselho consultor da Associação Matogrossense dos Produtores de Algodão (Ampa). “A área plantada com algodão no estado é de pouco mais de 300 mil hectares, enquanto a de soja é de 1,6 milhão de hectares”, diz Pessa.
De olho na disponibilidade local de oleaginosas, a Ampa está coordenando a criação da Cooperativa de Biocombustível (Cooperbio), com sede em Cuiabá, que terá unidade de fabricação de biodiesel de soja. A fábrica terá capacidade de produzir 350 mil litros de biocombustível por dia e começará a operar em outubro de 2007. “Todo o caroço de algodão do estado não seria suficiente para rodar a fábrica por 180 dias”, diz. Serão investidos R$ 30 milhões na unidade, que poderá produzir biodiesel de outros óleos vegetais.