Para não ceder espaço no concorrido mercado de açúcar e álcool, a Usina Batatais está investindo R$ 200 milhões na construção de sua segunda usina, em Lins (SP), a 250 quilômetros de sua sede, em Batatais (SP). A nova unidade deverá entrar em operação em 2007. “Nossa meta é ter duas usinas fortes”, afirma Bernardo Biagi, presidente da companhia, campeã do setor Açúcar e Álcool de Valor 1000 pelo segundo ano consecutivo. A Usina Batatais obteve o primeiro lugar nos quesitos margem da atividade (com lucro de 24,4% sobre a receita, quase o dobro da média de 12,4% do setor) e geração de valor. Neste último alcançou a margem de Ebitda sobre a receita de 32,8% (a média setorial é de 19,5%).
Biagi conta que o Estado de São Paulo responde por 60% da produção nacional de açúcar e álcool, concentra o maior número de usinas do país e a concorrência é grande. “Com a construção da segunda usina, o grupo ganha em sinergia”, diz. A nova unidade começa a moer cana na safra 2007/2008, com uma produção estimada em 1,1 milhão de toneladas. “A expectativa é atingir uma moagem de 4 milhões de toneladas por safra nos próximos seis a oito anos.”
Um terço dos R$ 200 milhões que estão sendo investidos para a ampliação refere-se a financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os outros dois terços são de capital próprio, com duas fontes de origem. Metade veio da venda de ativos da Usina Batatais. “Vendemos propriedades rurais que não fazem parte do nosso negócio principal”, diz Biagi. A outra metade saiu dos lucros que a companhia registrou nos últimos três anos. “Aproveitamos a boa fase do setor para fazer caixa.”
Os investimentos em uma nova unidade são uma resposta à rápida expansão da produção da companhia, que está operando quase no limite de sua capacidade industrial, de 4 milhões de toneladas de cana. Na safra 2005/2006, encerrada em abril de 2006, a usina processou 3,1 milhões de toneladas. Para a safra 2006/2007, a expectativa é crescer 8%, para 3,4 milhões de toneladas. “Queremos priorizar o aumento da moagem”, diz.
Uma das 30 associadas da Copersucar, a Usina Batatais produziu 5,2 milhões de sacas de açúcar de 50 quilos e 130 milhões de litros de álcool na safra 2005/2006. Cerca de 85% da produção de álcool é do tipo anidro (para misturar à gasolina). A nova unidade de Lins produzirá álcool hidratado (usado direto como combustível) quase na sua totalidade. Com um faturamento de R$ 301,7 milhões na safra 2005/2006, a usina projeta um incremento de 16% para 2006/2007, em torno de R$ 350 milhões.
A gestão da empresa tem dado prioridade nos últimos anos ao controle das despesas e a utilização máxima da capacidade industrial da usina. O grupo também dá ênfase à automação, além da mecanização da colheita de cana. “Hoje, 70% da colheita já é mecanizada”, revela Biagi. Na atual safra, o grupo está implantando, como novidade, o plantio também mecanizado, cuja técnica será adotada em metade dos 7 mil hectares de área com cana que deverão ser renovados. A área total plantada é de 45 mil hectares e, a cada ano, são renovados 20% dos canaviais. A proporção deverá ser a mesma naunidade de Lins, ou seja, 50% da área de renovação será com plantio mecanizado.
Seguindo a filosofia de se fortalecer no campo e reduzir ao máximo seus custos, a Usina Batatais sabe da importância de uma gestão de recursos humanos eficiente, com o aproveitamento máximo do potencial de seus funcionários. Segundo Biagi, estão sendo aproveitados os talentos já existentes na empresa para integrar a nova unidade. O RH da companhia costuma fazer um mapeamento do pessoal para identificar onde essas pessoas podem ser integradas. “Com base nisso, promovemos alguns funcionários para trabalhar na usina de Lins.”
A produção da nova unidade de Lins será, em sua quase totalidade, de álcool para uso direto como combustível Biagi conta que o grupo também subsidia a faculdade de funcionários que escolhem uma carreira compatível à exercida dentro da usina. “Costumamos valorizar nosso pessoal”, diz. Todos os funcionários do grupo – 2,1 mil da unidade Batatais e outros mil na unidade Lins – têm registro em carteira, recebem assistências médica e odontológica e contam com auxílio-medicamento. Nenhum funcionário do grupo mora na usina. Todos preferem viver na cidade de Batatais. O transporte do pessoal até a usina é de responsabilidade da empresa, que, além disso, estimula as atividades na comunidade – como as escolas de futebol para integrar os filhos dos funcionários. “Nós, da diretoria da usina, assim como nossa família, adoramos jogar futebol.”
Fundada em 1985, a Usina Batatais é controlada pelos irmãos Bernardo Biagi, presidente, e Lourenço, vice-presidente da companhia. Como a maioria das 320 usinas de açúcar e álcool do país, o grupo tem forte influência familiar. Mas esse perfil tem mudado nos últimos anos. “Temos executivos de mercado em nossa diretoria”, lembra Biagi, ressaltando que, apesar da gestão familiar, o grupo está aberto a profissionais do mercado.
Bernardo Biagi integra a tradicional família Biagi, que controla algumas das mais importantes usinas de açúcar e álcool de São Paulo. Filho de Baudílio Biagi, Bernardo é sobrinho do empresário Maurílio Biagi, que durante décadas foi controlador da Companhia Energética Santa Elisa, de Sertãozinho, localizada na região de Ribeirão Preto (SP). “Temos muito orgulho do que fazemos. Os negócios com açúcar e álcool fazem parte da história de nossa família”, diz.