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Mais 60 dias para negociar gás

A Petrobrás e a estatal boliviana YPFB decidiram prorrogar por 60 dias as negociações sobre o preço do gás natural importado pelo Brasil. A decisão, tomada após dois dias de reunião no Rio, evita o recurso da arbitragem internacional, que daria ao processo ares de confronto.

Os bolivianos falam em aumentar o preço do gás para até US$ 8 por milhão de BTU, enquanto a Petrobrás sustenta que não há margem para novos reajustes.

Nos últimos 45 dias, representantes das duas empresas se encontraram quatro vezes para discutir o tema. Segundo fontes da estatal, a YPFB não chegou a sugerir novos preços, mas argumentou que os valores pagos atualmente, em torno dos US$ 4 por milhão de BTU, estão abaixo das cotações dos produtos concorrentes do combustível, como diesel e óleo combustível.

Para a Petrobrás, aumentos de preços provocariam redução na demanda pelo combustível. “A questão é eminentemente política. Se a discussão for feita em termos técnicos, não há mesmo espaço para reajustes”, decreta um ex-diretor da Petrobrás, que participou das negociações iniciais do contrato de importação da Bolívia.

Diante do impasse, o presidente boliviano, Evo Morales, declarou esta semana que, se for preciso, vai recorrer ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conseguir o aumento.

Para os negociadores brasileiros, uma arbitragem internacional seria prejudicial à Bolívia, pois o país não conseguiria reverter o contrato, que prevê reajustes trimestrais com base na cotação do petróleo no mercado mundial.

Por isso, a empresa mantém a posição, à espera de um recuo boliviano. Esta semana, o ministro dos Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz Rada, voltou a ameaçar partir para arbitragem, mas admitiu estender o prazo de negociações.

Em julho, a Bolívia conseguiu reajustar o gás vendido à Argentina para US$ 5 por milhão de BTU. Com Buenos Aires, as negociações foram mais fáceis porque o contrato vence em dezembro e uma renovação teria de ser discutida de qualquer modo. No caso brasileiro, o contrato vai até o fim da próxima década e uma revisão deve ser feita de comum acordo ou arbitrado em um fórum internacional.