Mercado

Marcha a ré na economia libanesa

A guerra com Israel iniciada no dia 12 de julho causou cerca de US$4,5 bilhões em prejuízos ao Líbano até agora. A estimativa é do ministro da Indústria libanês, Pierre Gemayel, e inclui danos à infra-estrutura, propriedades particulares e à economia do país. Segundo Gemayel, 25 mil residências foram reduzidas a pó e mais de cem pontes inutilizadas, além de cinco centrais de fornecimento de energia elétrica e dezenas de quilômetros de estradas avariados pelos caças-bombardeiros de Israel. Os principais portos e aeroportos estão inativos desde o início do conflito, impedindo importações e exportações, e o estoque de combustível deve durar apenas mais uma semana.

Somada às mais de 900 pessoas mortas, três mil feridas e quase um milhão obrigadas a deixar suas casas, a estimativa do ministro mostra a situação em que se encontra o Líbano, país que começava a decolar economicamente depois de mais de 15 anos de guerra civil, após quase um mês de conflito.

Embora os danos materiais sejam vultosos, o motivo de maior preocupação nos círculos empresariais e financeiros é a estagnação da economia provocada pelo fechamento dos portos e aeroportos e pelo desastre na área de turismo. Cerca de um terço do PIB libanês vem dos turistas que lotam o país entre o final de junho e setembro em busca de sol, ruínas históricas e divertimento, justamente o período do início do conflito. As previsões deste ano apontavam para o melhor verão de todos os tempos, impulsionado pela estabilidade política e pela reconstrução de hotéis, praças, bares e cafés que dão a Beirute um ar ocidental. Com a guerra, os hotéis estão praticamente vazios (a maioria dos hóspedes é de jornalistas ou funcionários de organismos internacionais) e boa parte dos bares e restaurantes nem abre as portas.

Fundo internacional pode ajudar recuperação

É o caso do sofisticado Hotel Albergo, instalado em um prédio histórico recém-reformado no bairro de Aschrafiye. Cada quarto é equipado com banheira de hidromassagem e é ricamente decorado de forma diferente. Normalmente as diárias custam entre US$320 e US$370.

— Estamos oferecendo uma promoção para jornalistas: US$160 a diária com internet sem fio incluída — informou o gerente Mourad Lahoud.

Mesmo assim o Albergo está quase vazio. O setor de importação e exportação também sofre com a guerra.

— Minha mercadoria está toda em navios. Além de não conseguir desembarcar os produtos, tenho que pagar a diária dos navios e portos. Meu prejuízo já é de uns US$100 mil — disse a brasileira Clarice Abou Jaoude Jbeli, dona da Só Brasil, empresa pioneira em importação de produtos brasileiros para o Líbano e para o Oriente Médio, que atua na região desde 1960.

Cerca de 80% da carne consumida no Líbano sai do Brasil. Devido à falta do produto alguns restaurantes tiveram que excluir itens do cardápio e está ficando difícil encontrar um simples hambúrguer nas lanchonetes.

Com a redução dos estoques, a inflação se torna uma ameaça. Nos bairros da periferia, produtos como açúcar e arroz tiveram os preços triplicados.

— Estou vendendo tudo o que tenho, mas meu estoque só dura mais um mês — disse Clarice.

O medo é outro fator prejudicial. Muitas empresas estrangeiras transferiram seus escritórios para as montanhas do norte e operam provisoriamente em hotéis. Outras simplesmente suspenderam as atividades em Beirute e transferiram negócios e funcionários para Cairo (Egito) ou Dubai (Emirados Árabes).

A notícia é catastrófica para o pujante mercado financeiro libanês, já que o país depende quase inteiramente de investimentos externos. O Líbano tem uma dívida de US$40 bilhões para um PIB de US$18 bilhões. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) uma economia saudável deve ter uma dívida de no máximo 25% do PIB.

Embora esteja localizado no centro do Oriente Médio, maior produtor mundial de petróleo, o Líbano está à beira de um colapso energético. Pelo menos cinco usinas de energia elétrica foram destruídas por Israel. A base da matriz energética libanesa são as termoelétricas. E segundo declarações do primeiro-ministro Fouad Siniora, o estoque de gasolina deve durar uma semana. Nos poucos postos que ainda vendem gasolina as filas são quilométricas. A venda foi racionada e cada carro pode ser abastecido com no máximo dez litros (US$10).

Embora ainda não se vislumbre um término para o confronto e a situação venha se agravando a cada dia, o governo anunciou na sexta-feira que os trabalhos de reconstrução começam assim que a guerra terminar. Castigado por várias guerras desde a independência em 1943, o país tem experiência em reconstruções. O trabalho iniciado pelo ex-primeiro-ministro Rafik Hariri (assassinado em 2005) no início da década de 90 sequer está completo.

O motivo de otimismo do Conselho de Desenvolvimento e Reconstrução (que tem status de ministério) é o aceno por parte dos governos da Arábia Saudita e Kuwait da criação de um fundo internacional para reconstrução do Líbano. Apenas estes dois países estariam dispostos a fornecer US$1 bilhão.

Segundo o Conselho, a reconstrução das pontes deve custar US$262 milhões; das estradas, US$70 milhões; das termoelétricas, US$180 milhões; e outros US$150 milhões seriam necessários para reparos em 40 usinas industriais destruídas pelos bombardeios israelenses.