Mercado

Brasil movido a América Latina

Maior país industrializado da América Latina e do Caribe, o Brasil está ganhando com o crescimento dos mercados da região. Isso fica claro em uma pesquisa realizada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior: apenas no primeiro semestre, a participação de latinos e caribenhos na pauta de exportações brasileiras de manufaturados foi de 31,2%, contra 28,6% entre janeiro e junho de 2005. No mesmo período de comparação, a fatia de importadores tradicionais, como os EUA, caiu de 25,6% para 23,5%. Já a contribuição da União Européia (UE) passou de 18,2% para 17,2%.

Entre janeiro e junho, em relação com o mesmo período do ano passado, as vendas para os latinos cresceram mais (24%) do que para os EUA (3,9%) e a UE (7,5%), e foram superiores em volume. A América Latina comprou US$ 10,628 bilhões do Brasil, 32,9% mais do que os EUA e 81,2% mais do que os países europeus.

Participação de EUA e UE diminuiu

Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat, além do crescimento das economias da região, o dinamismo das exportações brasileiras se deve, ainda, à complementariedade das plataformas industriais com forte peso no intercâmbio comercial (caso do setor automotivo) e ao esforço do governo em buscar maior aproximação política com esses países, para ampliar a diversificação de mercados compradores.

— Os países da América Latina são tradicionalmente demandantes de bens manufaturados brasileiros. Portanto, parte do dinamismo ora vigente é reflexo de uma recuperação da atividade econômica da região, com ênfase para Argentina e Venezuela, países que em 2005 registraram taxas de crescimento do PIB de 9,2% e 9,3%, respectivamente, e figuram como líderes no intercâmbio comercial do Brasil com a região — disse Meziat.

Sobre a Argentina, ele disse que há uma forte integração do país com o Brasil no setor automotivo, com um histórico de acordos. Assim, automóveis e autopeças têm peso significativo na pauta brasileira de exportações para o mercado argentino. No primeiro semestre deste ano, as vendas de carros para a Argentina subiram 34,5% e a de autopeças, 56,2%.

Meziat citou também, como importantes mercados compradores, México, Chile, Colômbia e Paraguai. E lembrou que países com menos tradição no comércio com o Brasil têm aumentado significativamente suas aquisições de manufaturas, como Bahamas (133,8%), Cuba (96,1%), São Vicente e Granadinas (64,6%), Equador (57,8%), Haiti (44,2%), Panamá (37,2%) e Peru (27,2%).

Já a participação relativa dos EUA e da UE apresentou redução na pauta de exportação de manufaturados porque as vendas para os países latino-americanos e da África se mostram mais dinâmicas, ou seja, com taxas de crescimento acima da dos EUA e da Europa, explicou o secretário. Meziat frisou, porém, que os mercados americano e europeu continuam a ser importantes compradores de bens manufaturados, representando 40,7% das exportações desse grupo de produtos e foco de interesse permanente do comércio exterior brasileiro.

A pauta de exportações de produtos manufaturados é bastante diversificada. Os principais itens exportados para a América Latina e o Caribe nos primeiros seis meses de 2006 foram automóveis, telefones celulares, óleos combustíveis, autopeças, veículos de carga, siderúrgicos, resinas plásticas, motores para veículos, tratores, pneumáticos e máquinas e aparelhos para terraplanagem.

— Vale também destacar o crescimento das vendas de aviões, motores e geradores elétricos, condutores elétricos, ônibus, motocicletas, pisos cerâmicos, etanol, açúcar e químicos — disse Meziat.

Roberto Giannetti da Fonseca, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), diz que os países da América Latina, principalmente, estão em melhor situação do que há quatro ou cinco anos. Hoje, afirmou, o que se vê é a recuperação do crédito e da demanda.

— O Brasil tem vantagem competitiva na região, pois é plataforma de exportação de multinacionais, com ênfase para equipamentos agrícolas, caminhões, ônibus e eletroeletrônicos. E os brasileiros contam com um sistema de financiamento das exportações bastante eficiente.

O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, concorda que o peso maior dos latinos e caribenhos na pauta se deve à recuperação econômica desses países. Mas ele lembrou que houve mudança na pauta para os EUA, que nunca compraram tanto petróleo, que é um produto básico, do Brasil, o que diminuiu a participação dos americanos na pauta de manufaturados.

— As vendas de aviões para os EUA também caíram 38% no primeiro semestre — destacou Castro.

O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Primo Roberto Segatto, observou que, apesar do aumento das exportações para os latinos e caribenhos, os mercados americano e europeu são mais seguros e menos sujeitos a mudanças de regras.

— É só ver o que aconteceu na Bolívia — disse.

Para Fábio Silveira, da RC Consult, o momento é de o Brasil tirar proveito de seu desenvolvimento:

— O fato de o Brasil dispor de uma estrutura industrial mais robusta na região faz com que o país aumente suas exportações de manufaturados.

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