Mercado

Estocagem de álcool terá crédito

Temendo que o preço do álcool dispare na entressafra, que começa em janeiro e vai até maio, o governo decidiu retomar, no ano que vem, os financiamentos para a estocagem do combustível. Os empréstimos devem ser oferecidos aos usineiros entre junho e julho de 2007 e pagos no começo do ano seguinte. O assunto foi discutido ontem por técnicos dos Ministérios da Agricultura e da Fazenda. Ainda não falamos em valores. Estamos apenas estudando um modelo que permita a formação de estoques, revelou um técnico que participou da reunião.

Interlocutores dos dois ministérios negaram que o assunto tenha voltado a ser discutido por causa da alta dos preços do álcool nas últimas semanas, em plena safra. O governo tentou tranqüilizar os consumidores e classificou a alta como um soluço. O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, afirmou que a alta não preocupa. Nós estamos vivendo uma pressão natural, estamos acompanhando o mercado internacional, mas nada que nos deixe muito preocupados, porque estamos no meio da safra, afirmou o ministro.

Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/ Esalq) mostra que o indicador de preço do álcool anidro subiu 0,17% na semana passada, para R$ 1,04 o litro. No caso do hidratado, o indicador aumentou 0,02%, cotado a R$ 0,90 por litro. Pesquisa do InformEstado em 29 postos espalhados pela cidade de São Paulo mostra que os preços do litro subiram cerca de 6%.

O governo endossa a explicação da iniciativa privada para a alta de preços verificada nas últimas semanas. Segundo empresários, o aumento das exportações de álcool em junho justifica o aumento de preços do combustível no mercado interno. A cotação do álcool no mercado externo é mais remuneradora do que o preço doméstico, avaliou uma fonte do governo.

TROCA DE COMBUSTÍVEL

Nas últimas semanas, o preço internacional caiu de US$ 580 para US$ 530 por metro cúbico, valor livre nos portos. Mesmo assim é mais vantajoso vender no mercado externo. O mercado americano tem absorvido grande parte da oferta brasileira.

Para alguns interlocutores, a greve dos auditores fiscais, que durou mais de dois meses, também favoreceu as vendas externas de álcool. O raciocínio é que o álcool não disputou nos portos espaço com outros produtos agrícolas. Um único embarque em junho foi superior a 400 milhões de litros. A burocracia para exportar álcool é menor, comentou uma fonte.

Num quadro normal, os embarques mensais oscilam entre 270 milhões e 300 milhões de litros. Mas restringir as exportações é hipótese descartada pelo governo. O Brasil tem lutado pelo livre comércio e adotar medidas restritivas seria um contra-senso, disse uma fonte.

A alta de preços durante a safra poderia levar à conclusão de que a situação será crítica durante a entressafra, mas essa não é a avaliação do governo. Para fontes oficiais, a alta vai afugentar os consumidores do álcool, principalmente os motoristas que têm carros bicombustível. A alta é transitória. Não há espaço para novas altas.

O consumidor vai deixar de comprar álcool hidratado e buscar a gasolina, comentou. Com a troca, os estoques de álcool em poder das usinas serão satisfatórios na entressafra, aposta o governo.

Preço do litro não pára de subir em São Paulo

O preço do litro do álcool não pára de subir nos postos de São Paulo. Esta já é a sexta semana consecutiva em que o combustível aumenta, conforme constatou pesquisa feita pelo InformEstado, em 29 estabelecimentos espalhados pela cidade.

O valor médio cobrado em São Paulo pelo litro de álcool era R$ 1,371 na semana de 19 de junho. Hoje, o preço está em R$ 1,453. Ou seja, aproximadamente 6% mais caro.

A justificativa dada pela União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), em nota oficial, é a pressão de demanda puxada pelo mercado externo cujas cotações estão 20% acima do mercado doméstico.

Entretanto, para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo, José Alberto Paiva Gouveia, não há motivos que justifiquem esse contínuo aumento no álcool. A produção está em período de safra e houve deflação nas últimas semanas. Ou seja, não há justificativa para continuarem aumentando o álcool. E nós, donos de postos, não temos outra saída se não repassarmos os reajustes para as bombas. Mas se o álcool continua subindo, a gasolina teve queda de 0,8% da semana passada para cá. A média no dia 17 era de R$ 2,515. Hoje, está em R$ 2,492.