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Para consultor, risco de racionamento é real

Mesmo sem participar diretamente do debate entre o presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas, Maurício Tolmasquim, e o prof. Ivan Camargo, representante do PSDB, o José Said de Brito, da consultoria Excelência Energética, advertiu, ontem, no 3º Summit Energy, que o Brasil convive hoje com a possibilidade de um novo racionamento de energia entre 2009 e 2011. Para evitá-lo, sugere uma série de medidas que inclui não só a aquisição de 4 mil megawatts (MW) de energia gerada a partir do bagaço de cana-de-açúcar, como também a construção da usina termonuclear Angra 3.

Segundo Said, em 2009, o país precisará de 700 MW, enquanto em 2010, a necessidade será de 1,9 mil MW. O pior cenário, segundo ele, está previsto para 2011, quando haverá necessidade de 3,2 mil MW.

O consultor justificou o alerta ao lembrar que leva em consideração os mesmos números com os quais o governo trabalha para projetar o cenário de consumo nos próximos anos. Além do crescimento médio de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) no período, prevê taxa de 5,2% de crescimento médio do consumo de energia no País. O problema, segundo Said, residiria em um excesso de otimismo do governo nas projeções de oferta de energia para o período.

Como exemplo, citou o que classificou de metas muito ousadas de conservação de energia no Plano Decenal que vai até 2017. O executivo justificou que, ao projetar uma meta de redução dos atuais 16% para cerca de 14% nesse período, o governo conseguiria agregar 1,5 mil MW ao sistema interligado nacional. O problema, advertiu, é que uma redução nesse patamar envolveria não só uma diminuição considerável das perdas comerciais – que incluem os chamados gatos pelas distribuidoras -, mas também das operacionais, ocasionadas por equipamentos obsoletos.

Só isso, justificou, já demandaria uma revisão de 1,5 mil MW na previsão de oferta de energia nova pelo governo. O problema, de acordo com Said, é que tais previsões ainda levam em consideração dois empreendimentos energéticos demasiadamente sensíveis do ponto de vista ambiental: as usinas hidrelétricas do complexo do Rio Madeira (RO), de 7 mil MW, e de Belo Monte, no rio Xingu (PA), de 5 mil MW.

Dessas, só as primeiras usinas do Madeira — Santo Antonio e Girau — têm previsão de serem licitadas nos próximos dois anos. A de Belo Monte ainda depende da conclusão de estudos de viabilidade técnica e econômica para ser enquadrada no cronograma oficial. O consultor adverte que, dada a complexidade de tais projetos, não há como o governo trabalhar com um cronograma tão apertado das obras.

É preciso, segundo Said, levar em consideração não só atrasos nos procedimentos licitatórios, como no processo de licenciamento ambiental e de contratação das obras. Pelo cronograma do governo, as usinas do Madeira estão previstas para operarem a plena capacidade só em 2013. O calendário de obras prevê, no entanto, a entrada gradual das 85 turbinas previstas para o projeto. Com isso, a perspectiva é que parte já esteja em operação em 2011.

Para evitar novo racionamento, o executivo sugere não só a aprovação urgente de projetos como o de Angra 3, como também a melhoria das condições de remuneração dos projetos de usinas de cogeração com bagaço de cana. Incluídas no Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa), coordenado pela Eletrobrás, as usinas serão remuneradas por R$ 106 por megawatt/hora (MWh). No último leilão de energia nova, em dezembro, o governo chegou a contratar esse mesmo tipo de energia por R$ 134/MWh. “Por isso é que o Proinfa só conseguiu contratar 770 MW à base de biomassa, quando a meta era de 1,1 mil MW. Para compensar, o governo teve que contratar mais energia eólica e de PCHs”, afirmou Said.

kicker: Uma nova crise só seria evitada com a aquisição de 4 mil MW gerados a partir do bagaço de cana e a construção de Angra 3