Mercado

Usinas querem vender álcool aos EUA

Usineiros contestam Gabrielle; para eles americanos devem sim ser prioridade para a Petrobras. O mercado americano representa um interessante filão para as usinas de álcool brasileiras. A expectativa é de que a demanda pelo combustível não pare de aumentar nos próximos anos, na mesma proporção do potencial de crescimento da capacidade brasileira de produzir etanol, segundo acreditam alguns usineiros. Por acreditarem na possibilidade de os EUA se transformarem no principal comprador de álcool é que os dirigentes das destilarias nacionais terem estranhado o fato de o presidente da Petrobras, José Gabrielli de Azevedo, ter declarado ontem em Nova York que a empresa não se interessa pelo mercado americano (ver página C-2).

“A oferta de álcool para os Estados Unidos não é nossa maior prioridade”, segundo Gabrielli declarou à Reuters. “Primeiro, nós temos o nosso próprio mercado para suprir”. Além disso, segundo Gabrielli, há contratos firmados com o Japão e que terão de ser cumpridos. O presidente da Petrobrás mencionou também as restrições regulatórias impostas pelo mercado nos Estados Unidos, que oneram e dificultam as exportações do combustível para aquele país. Outro barreira às vendas do setor, segundo afirmou, é a da indústria automobilística que precisaria mudar os motores de seu veículos para conseguir para que esse mercado fosse inteiramente acessível ao álcool combustível brasileiro.

O que o presidente da Petrobrás apregoou em Nova York coincide com o que o presidente da União das Destilarias do Oeste Paulista (Udop), Luiz Guilherme Zancaner, vem defendendo nos últimos tempos. Para ele, é preciso dar prioridade ao mercado interno. Mas, nem por isso, ele concorda com Gabrielli. “Não se pode desprezar um mercado do tamanho do americano”, declarou. “Nunca se sabe o que pode acontecer no futuro”.

As exportações de álcool, segundo informa, não param de crescer. Os preços são convidativos e os empresários agem com a lógica dos resultados alcançados por suas empresas. Segundo Fernando Perri, vice-presidente da Udop, os rumos que serão tomados pelo mercado internacional de álcool combustível são imprevisíveis. Segundo acredita, breve haverá tecnologia para que até turbinas de aviões sejam movidas a etanol. Por isso, Perri defende um amplo debate sobre os destinos do álcool brasileiro.

O vice-presidente da Udop também defende a prioridade do mercado interno, mas isso para ele, não quer dizer que não se deve dar atenção ao mercado externo. “O que defendo é o planejamento e a formação de estoques para garantir o abastecimento do mercado doméstico ao longo de todo o ano”.

Perri afirma que o presidente da Petrobrás não está sendo coerente, ao afirmar que o consumidor brasileiro é prioridade da empresa. Ele lembra que a empresa, até o momento não nenhuma menção em aproveitar o atual período de safra para estocar o produto para atender ao mercado interno na entressafra. “Isso dependeria do governo ou de sua principal estatal para se concretizar”.