Os avanços tecnológicos atingem a cadeia produtiva de carvão, através de uma nova técnica capaz de produzir carvão em pó e outros sub-produtos com mínima agressão ao meio ambiente. O sistema de produção foi apresentado durante o “I Seminário Regional sobre a Produção de Carvão Vegetal no Pará”, promovido pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e pela Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectam), no campus central da Ufra, em Belém.
O evento debateu a atual situação do carvoejamento no Pará e apresentar um modelo inovador de produção de carvão vegetal, que vai de encontro aos anseios da produção carvoeira, da sociedade, dos ecologistas, dos ambientalistas e dos conservadores do meio ambiente. O novo sistema poderá ainda gerar um comércio através do aproveitamento de resíduos florestais. Para o reitor da Ufra, Marco Aurélio Leite Nunes, “a máquina, se inserida no modelo de produção paraense, poderá diminuir o prejuízo ambiental no Estado”, garante.
Os tradicionais modelos de produção de carvão utilizados no Pará são 100% poluentes. Chamados de “fossa” e “rabo quente”, esses modelos lançam aproximadamente 630 mil vapores na atmosfera. No Pará existem cerca de três mil fornos funcionando e o setor carvoeiro já vem se fixando há mais de três décadas. Em substituição a este modelo produtivo foi desenvolvido, por pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp), o sistema PPR-200, que utiliza resíduos florestais e reduz significativamente os impactos ambientais.
Esta nova tecnologia consiste em uma máquina que transforma biomassa (resíduos vegetais) em fonte de energia. O processo diferenciado de produção de carvão vegetal diminui os índices de poluição, de desperdício de produtos naturais e de desmatamento.
Potencial de biomassa da região é significativo
O carvão vegetal serve como matéria-prima para que as siderúrgicas produzam ligas de ferro gusa, material utilizado pela indústria metalúrgica. Atualmente, a cadeia produtiva deste material é nociva ao meio ambiente, pois é devastadora de florestas e danosa à saúde dos produtores de carvão, que trabalham nos altos-fornos, ficam expostos a altas temperaturas e a gases prejudiciais à saúde.
O sistema consiste em uma máquina elétrica, que também utiliza gás, capaz de processar diversos tipos de biomassa como: caroço de açaí, restos de podas de árvores, capim, casca da castanha-do-Pará e serragem para gerar carvão vegetal, bio-óleo, biogás e água ácida (biodiesel). A máquina PPR-200 gera o carvão em pó, que segue para uma outra máquina, chamada de briquetadeira – a qual produz os briquetes de carvão.
As siderúrgicas paraenses concentram-se, principalmente, no Sul e Leste do Estado, nos municípios de Marabá e Carajás. De acordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em Carajás, funcionam 14 siderúrgicas, consumindo 12 milhões de metros cúbicos de lenha, anualmente, o que equivale a devastação de uma área de até 200 mil hectares durante este período.
O vice-reitor da Ufra, Sueo Numazawa, ministrou a palestra “Carvoejamento no Estado do Pará: Desafios e Soluções”, durante o seminário. Segundo ele, o potencial de biomassa da região é significativo. “Há necessidade de quantificar a biomassa que temos, precisa e corretamente, para que a matéria-prima seja utilizada com segurança”, afirma o pesquisador.
Emissão de poluentes diminui em 75%
A máquina mede 7 metros e pesa cerca de seis toneladas. Quando em funcionamento é capaz de processar 200 kg de matéria-prima por hora, de forma contínua. Para converter a biomassa em outros produtos, a máquina utiliza o processo de pirólise, que tem como função o tratamento e a destinação final do lixo, sendo energeticamente auto-sustentável, não necessitando de energia externa. A máquina queima os resíduos a 560ºC, decompondo a matéria-prima em novos produtos. Segundo os projetistas, a planta levou 8 anos para ser desenvolvida e possui longa vida, além de agregar novas tecnologias.
Após o processo, a máquina separa o carvão vegetal (carbono), o bio-óleo (alcatrão), o gás e líquido ácido. Todos esses elementos podem ser aproveitados pela indústria.
José Dílcio Rocha, pesquisador da Unicamp, apresentou o equipamento como uma alternativa para a crise energética e renovabilidade da biomassa (apresenta componentes celulósicos, lignina, extratos e minerais). “A máquina é capaz de transformar a biomassa em energia e combustíveis renováveis com um alto valor agregado. O que seria desperdiçado passa a ser utilizado de maneira sustentável, evitando em 75% a emissão de poluentes”, explica Rocha.
Para a construção do modelo piloto os investimentos chegam a R$ 300 mil. O possível preço de mercado está em torno de R$ 200 mil, dependendo da demanda do equipamento, ou seja, da quantidade de produção de carvão por hora. O programa Enerbio, criado em 2002 entre a Ufra, Unicamp e UFPA objetiva o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis. O equipamento foi desenvolvido com o auxilio das empresas Bioware, incubada na Unicamp, e Floragás, incubada na UFPA