Correspondente da agência Estado, em Buenos Aires
Durante quase uma década os empresários argentinos fizeram intenso pataleo (esperneio), alegando que o país estava sendo o alvo de uma avalanche de produtos Made in Brazil. No entanto, os produtos brasileiros hoje em dia não preocupam tanto o empresariado. Nos últimos tempos os argentinos viram como rapidamente, na surdina, as mercadorias provenientes do principal sócio do Mercosul foram sendo deslocadas por um novo invasor proveniente do Oriente, neste caso, a China.
Em 2005, a venda de produtos chineses para a Argentina cresceu quase 300% em relação a 1999, enquanto que os produtos brasileiros registraram um aumento de 82,4% no mesmo período. Para este ano, a consultoria Abeceb.com calcula que as importações argentinas de produtos brasileiros crescerão 14%, enquanto que as vendas de produtos Made in China aumentarão 54,3% em relação a 2005.
Segundo a Abeceb.com, a Argentina substituiu as importações brasileiras pelas chinesas em vários setores, principalmente em manganês e suas manufaturas. Neste caso, as vendas brasileiras ao mercado argentino, em 2002, totalizavam 100% das importações argentinas do produto. A participação chinesa, que era nula, hoje em dia chega a 97%. O Brasil ficou com apenas 3%.
Outro caso de recuo brasileiro é o setor de malas de viagem e artigos de uso doméstico, onde a participação era de 77% em 2002. A China, que representava 17,4% das vendas provenientes do exterior ao mercado argentino no setor, hoje chega a 78,5%. O Brasil ficou com os restantes 19%.
No caso das bicicletas, área na qual o Brasil controlava 79% das compras argentinas ao exterior, a participação chinesa subiu de 5,9% para 52,1%. A presença brasileira despencou para 15%. Em produtos nos quais o peso do Brasil era baixo (menos de 25% do total importado pela Argentina), como guarda-chuvas e sombrinhas, a presença chinesa cresceu de 54% do mercado argentino para 97,6%.
Segundo a Abeceb.com, “a produtividade trabalhista na China esteve crescendo de forma mais acelerada do que na América Latina, o que implica que a competitividade dos produtos chineses pode estar tendo vantagem em relação à produção regional”.