A maior parte das commodities agrícolas negociadas nas bolsas de Nova York e Chicago registrou valorização no primeiro semestre, um saldo nada desprezível diante da turbulência financeira global que marcou boa parte do período. Apesar de algumas bruscas oscilações, os chamados fundamentos se impuseram em cada mercado e as tendências que vinham sendo observadas seguiram sua linha. Assim, do ponto de vista de preços, o açúcar confirmou sua condição de estrela em ascensão e a soja permaneceu no clube dos produtos pressionados – que voltou a admitir o café como sócio.
Cálculos do Valor Data mostram que a cotação média dos contratos de segunda posição de entrega do açúcar, negociados em Nova York, foi 88,4% maior no primeiro semestre deste ano que no mesmo período de 2005. Para os investidores, mostrou-se uma aposta mais rentável do que o petróleo brent – que subiu 24,79% no intervalo -, o zinco special high grade (70,23%) e o níquel (66,48%) negociados na bolsa de Londres. Na outra ponta, o café nova-iorquino amargou uma queda de 7,8% na comparação das médias semestrais e superou inclusive a soja em grão negociada em Chicago, cuja queda foi de 3,4%.
Analistas ouvidos pelo Valor lembraram que, dada a turbulência financeira guiada em grande parte por expectativas em relação aos rumos da economia americana, os fundos de investimentos atuaram no mercado de commodities de olho em fatores macroeconômicos, e que essa postura se traduziu, de maneira geral, em pressão baixista sobre as cotações. “Houve medo de uma nova bolha na economia”, afirma Flávia Moura, da Fimat Futures. Em contrapartida, estreitaram-se os vínculos produtos como açúcar, soja e milho ao setor energético e, consequentemente, às variações do petróleo. “Esse movimento começou a acontecer no segundo semestre de 2005, mas só neste ano foi notada uma grande influência”, disse Renato Sayeg, da Tetras Corretora.
No caso da soja, carro-chefe dos grãos, a relação criada com os preços do petróleo provocou uma separação entre preços do farelo (usado para ração animal) e os do grão e do óleo. “Até pouco tempo atrás, a demanda por farelo era determinante na formação dos preços. O interesse começa a se voltar agora para o óleo”, observa Sayeg. Enquanto o preço médio do óleo alcançou 23,99 centavos de dólar por libra-peso no semestre, 7,6% mais que a média de igual período de 2005, o do farelo recuou 4,5% na mesma comparação, para US$ 178,91 por tonelada.
A relação estreita entre petróleo e commodities agrícolas dependerá, no entanto, do avanço efetivo da demanda mundial por biocombustíveis. No caso de grãos, há sobreoferta no mercado internacional e previsões de aumento dos estoques no fim da safra 2006/07. Esses dois fatores, associados às previsões de clima favorável ao desenvolvimento das lavouras nos Estados Unidos, tendem a pressionar as cotações dos grãos ao longo do ano. Analistas não descartam, no entanto, pancadas de volatilidade nos próximos meses, justamente por conta do clima nos EUA. “A tendência média, porém, é de retração”, acredita Flávia Moura.
Ainda em Chicago e também com relação direta com biocombustíveis e clima, a cotação média do milho subiu 10,9%, para US$ 2,4096 por bushel. Segundo Paulo Molinari, da Safras&Mercado, as previsões para o segundo semestre, no entanto, são baixistas devido ao excesso de oferta mundial. Seguindo o mesmo critério, o preço médio do trigo subiu 15,2%, para US$ 3,7463 por bushel. Élcio Bento, também da Safras, diz que a redução da safra americana e a menor oferta no mercado global determinaram a alta no semestre e a tendência deve se manter ao longo do ano. Conforme ele, a elevada liquidez no mercado de capitais foi outro fator determinante para a alta do trigo no mercado americano.
Em Nova York, a curva ascendente do açúcar manteve-se inabalável no início do ano em grande parte por causa da entressafra apertada de álcool no Brasil nos primeiros meses do ano. Com a colheita brasileira e expectativa de recuperação da produção dos países asiáticos, contudo, as cotações cederam. Apesar do contratempo, a valorização média semestral foi vigorosa (88,4%) e, segundo Michael McDougall, da Fimat, a expectativa é que os preços se mantenham firmes até o fim do ano.
O mercado está atento ao clima no Brasil – há ameaça de estiagem na região Centro-Sul – e às preocupações com um fungo identificado em canaviais australianos. Há demanda por parte da Rússia, principal país importador do mundo, e espera-se menor participação da União Européia no mercado internacional, em virtude da redução dos subsídios.
No caso do suco de laranja – que registrou a segunda maior valorização na comparação entre o preço médios dos primeiros semestres de 2006 e 2005 (51,7%), a temporada de furacões nos EUA – que se intensifica entre agosto e setembro – deverá manter o tom altista. Segundo McDougall, há quem aposte em mais ganhos neste segundo semestre, com as cotações podendo superar US$ 2 por libra-peso.
O algodão também subiu em Nova York, mas a sustentação foi mais recente e influenciada, como soja, milho e trigo, pelo clima nos EUA. As cotações médias do produto no primeiro semestre ficou em 54,93 centavos de dólar por libra-peso, 7,6% mais que no primeiro semestre do ano passado. As perspectivas ainda são incertas. “Há expectativa de que o plantio nos EUA seja maior que o esperado. Mas há uma boa demanda por parte da China”, diz McDougall.
Maior destaque negativo entre as commodities agrícolas, o café poderá apresentar fundamentos na metade final de 2006, sobretudo a partir do último trimestre, quando o mercado começará a ficar atento à menor colheita de café no Brasil na próxima safra, afirmou Rodrigo Costa, da Fimat. No primeiro semestre, as boas exportações brasileiras e as perspectivas de safra gorda no país deram o tom baixista. A cotação média do produto alcançou US$ 1,0960 a libra-peso, sempre de acordo com os cálculos do Valor Data.
E o cacau, finalmente, atingiu US$ 1.514,09 por tonelada na média de janeiro a junho em Nova York, 3% menos que a média apurada em 2005. Aqui os fundamentos continuam os mesmos, mas as perspectivas de conflitos durante a eleição presidencial na Costa do Marfim (maior produtor mundial) poderão conferir um tom altista aos preços, segundo Thomas Hartmann, da TH Consultoria.