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Doha: Estudos mostram que ganhos com a rodada diminuem

Os mais recentes estudos sobre o impacto de uma Rodada Doha bem sucedida mostram que os benefícios da liberalização comercial são surpreendentemente baixos. O crescente pessimismo sobre ganhos na rodada foi constatado ontem num seminário na Organização Mundial do Comércio (OMC), reunindo acadêmicos, funcionários de entidades internacionais e negociadores.

Antoine Bouet e Valdete Berisha, do International Food Policy Research Institute, de Washington, avaliaram diferentes estudos e modelos, concluindo que as expectativas de ganhos diminuem na medida em que novos dados da negociação são incorporados nos cálculos, confirmando o ditado de que “o diabo está nos detalhes”.

De um aumento de bem-estar global de 1,7% na média em 1999, a estimativa caiu para 1,5% em 2002, 1,3% em 2004 e apenas 0,5% no ano passado. O impacto sobre o número de pessoas que sairia da linha de pobreza globalmente varia de 72 milhões a 446 milhões.

Para o Brasil, um dos ganhadores da abertura agrícola global, o benefício para a faixa mais pobre da população seria criação de riqueza de 1,5% a 5,5%.

Estudos recentes mostram que o milagre asiático, a experiência do Chile, a liberalização da China e da Índia conduziram a altas taxas de crescimento econômico, mas que a expansão real da renda foi inferior a 3%.

Mesmo se o cenário esboçado por diferentes modelos não é tão favorável como anos atrás, os autores insistem que há ganho real com a abertura pela Rodada Doha. O principal ganho na liberalização agrícola vem do corte de tarifas e não da redução de subsídios domésticos. Essa é a tese defendida pelos Estados Unidos, Banco Mundial, Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas contestada pela União Européia, que hoje em Bruxelas também apresentará estimativas sobre ganhos na rodada.