O clima frio e a falta de chuva no interior de São Paulo têm prejudicado as principais culturas do Estado, principalmente o café. Se as condições climáticas continuarem instáveis até o final do ano, plantações de laranja e cana-de-açúcar também serão afetadas.
Segundo o consultor João Baggio, da G7 Consultoria de Agronegócio, o clima frio antes do período oficial de inverno não permite o amadurecimento dos grãos verdes. “Isso derruba o preço da saca, tanto para exportação quanto para o mercado interno”, explica. A queda já chega a 7,4%, de R$ 270 para R$ 250 a saca. A instabilidade do clima provoca a mistura de grãos em três estágios de desenvolvimento em um único cafezal. “Quando é necessário colher o grão não há como escolher, seja a retirada mecânica ou manual”, explica o consultor.
De acordo com Baggio, existem métodos de separar os grãos após a colheita, mas nenhuma técnica é 100% confiável. Outro problema é que os grãos colhidos antes da hora certa prejudicam o gosto do café. “O ideal seria que os cafezais fossem irrigados, mas muitos produtores não têm condições de optar por isso, por falta de crédito e porque os campos são grandes demais”, afirma Baggio.
O Brasil se mantém na liderança como maior produtor mundial de café. O setor gera mais de 8,4 milhões de empregos e responde por 7% do agronegócio brasileiro. Da produção mundial de 100 milhões de sacas, a participação do País fica entre 30% e 40% do total. O Estado de São Paulo responde, sozinho, por 30% da produção nacional.
Laranja e cana
Se o inverno mantiver a tendência de instabilidade, conforme as previsões, a safra da laranja e da cana-de-açúcar também serão prejudicadas. “No início de junho começa a safra da primeira variedade de laranjas do ano, a hamlin, cuja previsão é de normalidade”, diz Baggio. O problema, segundo explica, está nas colheitas seguintes.
Isso porque a laranja é vendida em caixas e por peso. “Com a variação climática, seu tamanho pode diminuir, ou seja, serão necessárias mais frutas para atingir o peso esperado”, explica Baggio. A laranja hamlin é extremamente ácida e é utilizada para regular a acidez do suco.
No que se refere à cana-de-açúcar, prováveis problemas só poderão ser analisados dentro de quatro meses, em setembro. O setor de cana tem 140 indústrias e 11 mil produtores distribuídos entre o norte e o oeste do Estado de São Paulo. Trata-se de uma cultura menos frágil que a laranja. Estimativas mostram que, em dois anos, o Estado de São Paulo, o maior produtor nacional de laranjas, deverá perder 30% dos seus 10 mil citricultores. A maioria tem migrado para a cana-de-açúcar.