A nova safra de álcool e açúcar em Minas está 30% maior do que a do ano passado. A maior oferta do produto no mercado tem como conseqüência imediata a queda nos preços do álcool hidratado e do álcool anidro – utilizado como mistura para a gasolina – nas bombas dos postos de combustíveis. No período 2006/2007, a produção mineira de álcool vai atingir 1,25 bilhão de litros contra 966 milhões de litros da safra anterior. O aumento da colheita de cana já era esperado pelos produtores que, há três anos, levaram ao Governo de Minas um planejamento estratégico cujo objetivo era alcançar a auto-suficiência do Estado na produção sucroalcooleira em quatro anos.
Com isso, o plantio de cana de açúcar em Minas saiu de 15 milhões de toneladas em 2003 para 28,8 milhões de toneladas em 2006, calcula o presidente do Sindicato do Açúcar e do Álcool em Minas Gerais (Siamig), Luiz Custódio Cotta Martins. Contribuem para o aumento da safra neste ano a entrada em operação de duas novas unidades produtoras, as usinas Santa Juliana e Itapagipe, no Triângulo Mineiro, com investimentos de R$ 400 milhões.
Usina em frutal começa a operar no ano que vem
No ano que vem, a safra aumenta ainda mais com a entrada em operação de Frutal, também localizada no triângulo, cujos investimentos são da ordem de R$ 200 milhões. Segundo Martins, a expansão da produção em usinas já existentes também é um fator de ampliação da oferta. Na próxima safra, o objetivo é chegar a 30,8 milhões de toneladas, o que vai colocar o Estado no segundo lugar do ranking nacional da produção de açúcar. De 2005 para cá, conforme o Siamig, a produção de cana deve crescer 16%, passando de 24,6 milhões de toneladas para 28,8 milhões de toneladas.
O destaque vai para o Triângulo Mineiro, que contribui com quase 70% da produção total do Estado. A produção de açúcar terá uma alta de 9,9%, correspondente a 1,91 milhão de toneladas. “Nesta safra, o setor irá gerar mais seis mil empregos diretos de um total de 55 mil no Estado. Este número ultrapassa nossas expectativas, que ficavam na casa dos 4,5 mil”, afirma Luiz Custódio Cotta Martins. Números do Siamig mostram que a produção de cana em Minas Gerais tem tido um crescimento médio de 11,3% nos últimos 10 anos, contra uma taxa média de 5% na região Centro-Sul – Minas, São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul – e de 3,3% em todo o País.
Esta expansão, segundo Martins, se deve à implantação de novas usinas no Estado desde meados da década de 90, além da elevação dos índices de produtividade, propiciados pelas condições climáticas e de topografia da região do Triângulo Mineiro. As outras regiões produtoras são Zona da Mata, Sul de Minas, Vale do Mucuri, Noroeste , Alto São Francisco, Rio Doce e Região Central e Ato Paranaíba.
Com a expansão produtiva, Minas já tingiu a autosuficiência da produção de álcool – produz 1,25 bilhão de toneladas e consome 1,2 bilhão de toneladas – mas, curiosamente, continua dependendo da importação do produto de estados como São Paulo para abastecer o seu mercado. Isso acontece por causa de dificuldades logísticas enfrentadas pelo Estado para transportar o álcool que produz dentro do seu próprio território. Assim, importamos álcool de Ribeirão Preto via ferrovia para atender a região central porque trazer o álcool do Triângulo por meio de caminhões fica 30% mais caro.
ICMS de 25% inviabiliza uso nos veículos flex
O único ganho logístico que poderia ser aproveitado em território estadual seria aquele proveniente do álcool hidratado, mas isso também não acontece porque em Minas o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o produto é de 25%, o que inviabiliza o custo-benefício da utilização do combustível nos veículos flex no lugar da gasolina. O aumento da oferta do álcool reduziu o preço do litro do álcool combustível nas usinas de R$ 1,24 em março para R$ 0,83 na semana passada, o que representa uma queda de 33%. Mas nos postos de abastecimento essa redução foi de apenas 8% em média.
Preço do litro do produto nos postos cai 9,2%
O preço do litro do álcool caiu 9,2% nos postos de Minas Gerais nas últimas quatro semanas. O combustível, que de 23 a 29 de abril custava, em média, R$ 2,19, era vendido por R$ 1,989 entre 14 e 20 de maio, informou a Agência Nacional de Petróleo (ANP). No Brasil, também está em queda pela quarta semana seguida: passou de R$ 1,957 para R$ 1,745.
As tabelas, no entanto, poderiam estar ainda mais baixas, segundo o Sindicato do Açúcar e do Álcool do Estado de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar-MG). “De março até o fim da semana passada, o preço do litro caiu 33% nas usinas. Enquanto isso, nos postos de combustíveis, teve redução de apenas 7,7%”, afirma Luiz Custódio Cotta Martins, presidente do Siamig. De acordo com ele, nesse período, o litro do álcool diminuiu de R$ 1,24 para R$ 0,83 nas usinas, enquanto nos postos de combustíveis em Minas passou de R$ 2,15 para R$ 1,98.
A redução do preço do álcool nas bombas deveria ser mais rápida, segundo Martins. “Os postos não estão baixando os preços na devida proporção. Reduzimos muito os valores cobrados, mas isso não está chegando ao consumidor”, diz. Segundo ele, quando os usineiros aumentam o preço do álcool, os postos reajustam suas tabelas imediatamente. “Quando é o contrário, isso não ocorre”, observa Martins.
A pesquisa da ANP constatou que, até o fim da semana passada, o preço mais baixo encontrado pelo litro do álcool em Minas foi de R$ 1,690 e o mais alto, de R$ 2,460. Segundo o Minaspetro, sindicato que representa os postos de combustíveis no Estado, a tendência é de que o preço do álcool continue caindo pelo menos até o fim de junho.
A explicação para a queda nos preços praticados pelas usinas é o aumento da oferta do álcool. A safra, que geralmente começa em maio, este ano foi antecipada para abril, em acordo dos usineiros com o governo.
Nos postos de combustíveis, os empresários já começam a sentir a mudança de comportamento do consumidor na hora de abastecer o carro flex. “Está começando a ficar vantajoso usar álcool e alguns consumidores estão trocando pela gasolina”, afirma Márcio Lott, proprietário de postos de combustíveis em Belo Horizonte e região metropolitana. Segundo ele, a demora para repassar a queda de preços ocorre porque muitos postos e distribuidoras trabalham com estoques antigos. “O consumidor precisa ter paciência, pois é preciso acabar com o estoque que foi comprado por preço mais alto”, diz Lott.