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Diesel verde pode elevar área plantada de soja

Industriais do setor de óleos vegetais e produtores de soja estão eufóricos com os efeitos positivos do programa de produção do novo combustível H-Bio da Petrobras, anunciado pelo governo na semana passada, dentro do programa alternativo ao uso do gás natural.

O setor avalia que o uso de 10% de óleo vegetal como matéria-prima para a produção de diesel (H-Bio) pode interromper a fuga das indústrias de esmagamento de soja para a Argentina e até mesmo reverter a tendência de redução na área plantada da próxima safra 2006/2007, que começa em julho. “É uma medida de extrema importância para o setor industrial porque o novo combustível gera uma forte demanda adicional”, avalia o vice-presidente do Grupo Caramuru Alimentos e diretor da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), César Borges de Sousa.

Para Sousa, a demanda por óleos vegetais, sobretudo de soja, pode mudar os planos das indústrias. “Quem não vai gostar de uma demanda firme como essa?”. Na Argentina, que tem capacidade instalada três vezes maior que a brasileira, as indústrias obtêm o dobro da margem de lucro. A Petrobras anunciou que fará contratos de fornecimento de longo prazo com as indústrias do setor.

No campo, a viabilidade do novo combustível foi muito comemorada. Primeiro, porque evitaria uma redução, e até mesmo poderia aumentar, a área plantada com soja. O produtor Rogério Salles, de Rondonópolis (MT), lembra que a medida ajudará na redução dos custos de produção das lavouras. “É uma demanda que demoraríamos pelos menos dez anos para criar com o aumento do consumo humano, por exemplo”, diz. Ele estima que, somente em Mato Grosso, sejam necessários 2 milhões de sacas de soja em 400 mil hectares para garantir a demanda para a produção do H-Bio.

A medida também elevaria a oferta de farelo de soja para a ração animal, o que refletiria na produção do complexo carnes. “Poderemos agregar valor aqui no Brasil e aumentar a oferta de ração animal à base de soja para toda a cadeia de carnes”, argumenta o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Ricardo Cotta. Os produtores cogitam arrendar plantas industriais paradas em função da crise do segmento de grãos para produzir o próprio combustível. “Seria uma solução caseira e inteligente que já se faz nos Estados Unidos”, diz Salles.

O Ministério da Agricultura aposta na medida para sinalizar um refresco na crise de liquidez e de renda. “Em 2007, a demanda deve chegar a 1,2 milhão de toneladas de soja. Terá vantagem quem estiver mais próximo das refinarias”, afirma o diretor de Cana-de-Açúcar e Agroenergia do ministério, Ângelo Bressan.