Impulsionados pelo aumento da demanda internacional de açúcar e álcool, os canaviais avançaram sobre pastagens e terras cultivadas com grãos – soja, milho e trigo – no Estado de São Paulo. No entanto, a entrada da cana encontrou resistência em áreas tradicionalmente cultivadas com mandioca, conforme o banco de dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA). Os números mostram que a extensão das culturas de mandioca industrial quase dobrou nos últimos três anos. Em 2003, foram planta dos 23.410 hectares, em 2004 a área aumentou para 28.810 e, no ano passado, deu um salto para 40.419 hectares. A produção cresceu quase na mesma proporção: 614.600 toneladas em 2003; 784.100 no ano seguinte e 984.400 em 2005. Essa mandioca abastece principalmente as indústrias de fécula e de farinha.
PARA MESA
O cultivo de mandioca de mesa, que atende a um mercado bastante diferenciado, de uso culinário in natura, também cresceu no mesmo período, passando de 7.500 para 8.300 hectares cultivados. A produção aumentou de 4,8 milhões em 2003 para 5,3 milhões de caixas de 25 quilos em 2004 e ficou em 5 milhões em 2005.
RESISTÊNCIA
Embora os preços da mandioca sejam considerados baixos pelos produtores, a cultura vive um momento de resistência, segundo o engenheiro agrônomo José Roberto da Silva, pesquisador do IEA. Como o cenário de preços para os grãos, como o milho e a soja, ainda é pior, a mandioca surge como uma alternativa de menor risco. Segundo ele, pode até haver uma ligeira queda na área de plantio este ano – os dados ainda estão sendo coletados -, mas não será significativa. Percebe-se uma pressão da cana-de-açúcar nas áreas de cultivo da mandioca, mas o produtor está resistindo. Os preços baixos do milho também influenciam a cotação da mandioca industrial. Nos últimos anos, a raiz vem ocupando o mercado do milho para a produção de amido. Com o grão desvalorizado, ele acaba concorrendo com a mandioca nesse segmento e empurra os preços da raiz para baixo. Em março do ano passado, a tonelada de mandioca industrial estava cotada em R$ 155. Na semana passada, a cotação atingiu R$ 85 na região de Assis, a mais baixa do ano.
Mesmo assim, em razão das boas técnicas de cultivo, o valor ainda cobre o custo de produção. Silva diz que a cultura está parcialmente mecanizada, reduzindo o peso da mãode-obra no custo final. Muitas propriedades utilizam máquinas de semear para o plantio e tratores com afofador, uma espécie de subsolador, para a colheita. Mas ainda é uma cultura que emprega muita mão-deobra, pois as máquinas precisam de vários operadores e a coleta das raízes é manual.
REAÇÃO
No Vale do Paranapanema, tradicional região produtora, os agricultores decidiram reagir ao assédio da cana sobre áreas de plantio do tubérculo. Em março deste ano, cerca de 150 produtores participaram de um dia de campo, no município de São Pedro do Turvo, em que foram apresentados os resultados obtidos com o cultivo experimental de dez variedades de mandioca, escolhidas entre as mais produtivas e resistentes.
De acordo com o agente de Desenvolvimento Antonio Márcio Cheranti, do Sistema Agroindustrial Integrado (SAI) do Sebrae, os experimentos mostraram os bons resultados obtidos com o plantio de manivas (parte da rama ou do caule usada para a formação de nova planta) sadias e de variedades apropriadas para a região. Foram obtidos resultados bem superiores em relação às variedades mais comuns existentes no mercado. A produtividade teve aumento de até 30% e ainda houve redução de custos, afirma Cheranti. Isso porque algumas variedades possibilitam a colheita 12 meses após o plantio, enquanto a média das variedades comuns é de 18 meses.
Segundo Ricardo Kenthack, consultor e pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP), o programa está desenvolvendo um trabalho de multiplicação das manivas e a difusão das tecnologias de cultivo da mandioca. O programa está fazendo um diagnóstico das 80 propriedades da região envolvidas no projeto. O objetivo é detectar os pontos fracos da cadeia e eliminar os gargalos, explica. Segundo o analista do Sebrae de Ourinhos, Luís Nogueira Perino, as informações servirão de base para um trabalho setorial de estímulo à mandiocultura.