Relações comerciais entre os dois países crescem abaixo da média do comércio exterior brasileiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou ontem de lado a crise política e fez um discurso sobre mudanças nas regras para que empresários italianos possam investir no Brasil. Ele afirmou que o empresário italiano que decidir vir para o Brasil para tocar um negócio próprio já poderá ter visto de residência para não enfrentar problemas burocráticos. “Para tomar decisões como se estivesse em sua própria terra”, disse Lula, Fórum Comercial Brasil-Itália, que acontece na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
Outra mudança anunciada pelo presidente brasileiro é o fim da retenção de 15% dos recursos aplicados no Brasil por conta do risco de se investir no País por parte do banco estatal italiano. Lula disse que essa taxa caiu a zero.
Entre 2003 e 2005, a colocação da Itália no ranking de maiores parceiros comerciais do Brasil caiu da sétima para a décima posição. Na opinião do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, a queda deve ser encarada como um espaço a ser explorado.
Segundo ele, as relações comerciais entre os dois países têm crescido em velocidade inferior ao aumento médio do comércio exterior brasileiro. Enquanto a média brasileira é de crescimento de 20% ao ano, com a Itália é de 10%. “Precisamos transformar os encontros em negócios efetivos”, disse.
Apesar da queda no ranking, o comércio bilateral entre Brasil e Itália recuperou sua importância na opinião do sub-chefe da Divisão de Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores, Rodrigo Azeredo. “Voltamos ao patamar de 1997, com exportações superiores a US$ 5 bilhões”, afirmou. De acordo com ele, o resultado representa 11% das exportações do Brasil para toda a União Européia.
Arezedo ressalva que a pauta de exportação brasileira para a Itália ainda está muito concentrada em produtos de baixo valor agregado, como a soja e derivados, o café não torrado e o minério de ferro. “Nosso desafio é tenta promover mais nossos produtos de maior valor agregado”, disse.
A primeira oportunidade ocorre nesta semana, com a visita de 170 empresários italianos, que vieram ao País para estreitar as relações comerciais entre os dois países. Eles participam de rodadas de negócios em áreas como construção civil, têxtil, design, alimentação e máquinas e equipamentos.
De acordo com o presidente da Confederação das Indústrias Italianas (Confindustria), Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari e da Fiat, o Brasil é hoje um país atrativo. “Não vejo nenhum risco de investimento no Brasil. A vinda da missão é uma prova disso”, afirmou. Na avaliação do empresário, o Brasil oferece hoje possibilidades de negócio como há muito tempo não se via, mas precisa investir no crescimento de seu mercado doméstico.
Para mostrar o potencial crescimento que vê no Brasil, o presidente da Associação Bancaria Italiana (ABI), Maurizio Sella, comparou alguns indicadores brasileiros e italianos. “O Brasil já não mete mais medo”, disse ao citar a inflação de 2% na Itália, contra a de 5% no Brasil; a taxa de desemprego de 8,1%, lá, e de 9,6%, aqui; a relação dívida sobre Produto Interno Bruto (PIB) – um dos grandes problemas da economia italiana – de 105%, contra os 50% no Brasil.
O presidente da Pirelli e da Telecom Itália América Latina, Giorgio della Seta, avaliou como “impressionante” o comportamento do risco-Brasil, tendo passado da faixa de 400 pontos (em 2003) para menos de 300 (em 2005). O risco-país é, de acordo com o empresário, a principal preocupação de quem quer fazer investimentos. “O Brasil tem demonstrado capacidade de manter estabilidade econômica mesmo com mudança política”, disse.
Segundo Azeredo, os investimentos italianos no Brasil cresceram 300% na década passada, motivados pela privatização de estatais brasileiras. Agora, setores potenciais para o crescimento são, na avaliação dele, os de móveis, confecções em couro, infra-estrutura (com as Parcerias Público-Privadas), etanol e biodiesel e turismo.