Mercado

Usineiros se agarram a métodos de curto prazo

Os usineiros brasileiros – salvo poucas exceções – definitivamente não têm visão empresarial de médio e longo prazo. Isso ficou nítido no mais recente movimento de alta de preços do álcool e do não-cumprimento do acordo selado com o governo Lula. Na ânsia de ganhos maiores nesses meses de entressafra da cana, vão perder milhões no futuro, pelo rombo na imagem e perda de confiança da sociedade brasileira. A Unica, que reúne os produtores de açúcar e álcool, diz que o setor segue a lei de oferta e procura. Então, por que se comprometeu pública e oficialmente a manter o preço do álcool hidratado abaixo do R$ 1,05 o litro até o início da safra? Nesse cenário, a empresa que se mostrou mais coerente foi a Coopersucar. Durante a reunião de janeiro, entre usineiros e ministro, em Brasília, ela se recusou inicialmente a aceitar o acordo, alegando que, se o câmbio flutuante flutua, o preço do álcool também poderia flutuar. Mas acabou seguindo a maioria.

Presente à reunião, o usineiro Maurílio Biagi Filho, indagado ontem sobre o aumento do preço do álcool de dezembro até agora e sobre a quebra do acordo, respondeu como produtor que é, em uma espécie de autocrítica: Quando falta bom senso, é difícil comentar. Outros usineiros como Clédio Balbo, Pedro Biagi e os Junqueira Franco também olham com desconfiança para o processo, mas não têm tamanho suficiente para influir mais pesadamente nos preços. Três empresas do setor respondem por 50% do álcool produzido no Brasil.

Uma delas inclusive, a Cosan, segundo fonte do setor, mantém estoque elevado, que poderia ser utilizado para desanuviar o problema de falta de produto.

O fato é que a atitude do setor colocou o ministro Roberto Rodrigues em situação delicada. Idealizador e avalista do acordo, jogou seu cacife na mesa e agora está sendo cobrado por integrantes do governo Lula, sem base para argumentar. A afronta atinge também o futuro do produto brasileiro no mercado externo. Dificilmente o presidente Lula ou seus ministros vão repetir o esforço de vender a tecnologia no exterior. Para serem alçados à categoria de empresários, os usineiros precisariam rever seus métodos.