Turbinada pelo bom desempenho das exportações e por promoções e financiamentos no mercado interno, a produção de veículos em 2005 atingiu 2,447 milhões de unidades, recorde histórico, segundo dados oficiais divulgados ontem pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
O número representa uma alta de 10,7% na comparação com 2004, que já havia sido um bom ano para as montadoras, e superou as expectativas iniciais da entidade do setor, que esperava um crescimento de 10,4%.
Nunca se produziu tantos veículos, caminhões e ônibus no Brasil por causa do aquecimento das demandas interna e externa: as vendas externas do setor também bateram recorde em 2005, com US$ 11,187 bilhões exportados em veículos e máquinas agrícolas. Isso representa um acréscimo de 33,5% em relação a 2004.
Em 2004 ante 2003, o crescimento das vendas externas foi maior, de 48,6%, mas o resultado desse ano é considerado muito bom porque a base de comparação foi ficando mais forte.
Já as vendas no mercado interno (dado que já havia sido divulgado pela Anfavea no início de janeiro) só não foram maiores em 2005 do que as registradas em 1997. Apenas no último mês do ano passado, foram licenciados 183,6 mil unidades, o que representa o melhor dezembro da história e o melhor resultado para um mês desde outubro de 1997.
“O mercado interno mostrou uma vitalidade até surpreendente, apesar de o volume de vendas ter continuado a se concentrar nos veículos mais baratos”, diz André Beer, consultor especializado no setor automobilístico.
A produção também teve um bom desempenho em dezembro, quando foram feitos 200.332 veículos, uma alta de 6% na comparação com o mesmo mês do ano retrasado.
Em relação a novembro, houve uma queda de 6%. “Dezembro veio dentro do esperado para produção, conseqüência de vendas muito boas. Houve queda na comparação com novembro porque em dezembro houve menos dias de produção”, afirma Beer.
Segundo o especialista, os financiamentos e as promoções feitos pela indústria ao longo do ano passado tiveram papel importante nas vendas da indústria. “Houve muita redução de preços e bônus de R$ 1.000 dados aos clientes na compra de automóveis”, recorda.
De qualquer forma, foram as exportações, que cresceram a despeito do câmbio desfavorável, que tiveram o maior peso na produção recorde de 2005. O incremento das vendas externas ante o ano retrasado representou 170 mil unidades a mais produzidas, para 144 mil a mais de vendas internas.
Os principais destinos das exportações brasileiras do setor, segundo estimativa de especialistas, continuaram os mesmos em 2005: Argentina, Estados Unidos e México, entre outros.
Apesar de ter tido o melhor ano da história para exportações e produção, a indústria automobilística não deve apresentar bons resultados financeiros relativos a 2005. “Além de muitas promoções, as indústrias exportaram muito, mas não tiveram lucros por causa do real supervalorizado ante o dólar”, diz Beer.
O ano dos bicombustíveis
No ano passado, pela primeira vez os carros chamados “flex fuel” -os bicombustíveis (álcool e gasolina)- venderam mais do que os movidos somente a gasolina. A participação desse tipo de automóvel sobre as vendas totais do setor saltou de 21,6% em 2004 para 53,6% em 2005.
A participação foi crescendo ao longo do ano: no mês passado, os “flex fuel” já representavam 73% das vendas de veículos no país.
A explosão de vendas desse tipo de automóvel fez com que aumentasse a participação dos carros de mais de mil cilindradas, ou seja, carros que não são “populares”, nas vendas totais. Em 2005, esses representaram 43,5% das vendas, ante 42,3% em 2004.
Se as expectativas do setor forem cumpridas, a indústria deve voltar a bater recordes de exportação e produção neste ano.
A Anfavea espera que em 2006 sejam comercializados 2,55 milhões de unidades, alta de mais de 4% ante 2005. Para exportações, a expectativa é que totalizem US$ 11,5 bilhões (alta de 2,7% na comparação com esse ano).
Para as vendas internas, a Anfavea espera uma alta de mais de 7% ante o ano passado, o que não deve ser suficiente para bater o recorde de 1997. “O cenário é bom. A indústria deve passar a utilizar mais de 90% da sua capacidade instalada, sem que isso seja um problema”, estima Beer.