O Rio Grande do Sul está preparando as bases para erguer o maior empreendimento de energia eólica da América Latina e o segundo do mundo. Até o final deste mês será construída, em Osório, no litoral gaúcho, a primeira das 75 torres que serão distribuídas em três parques eólicos – Parque Osório, Parque Sangradouro e Parque Índios. Juntos, eles terão potencial para a geração de 150 MW de energia a partir da força dos ventos, o suficiente para suprir o consumo residencial de 650 mil pessoas em Porto Alegre. O projeto está orçado em R$ 670 milhões, as obras estarão totalmente concluídas até o fim do ano e a previsão é de que em janeiro de 2007 já esteja em operação.
Os três parques, a serem construídos em Osório serão integrados. Cada um receberá 25 torres e terá potencial de geração de 50 MW de energia eólica. O diretor da CIP-Brasil, Alberto Martins Costa Pinto, informou que até julho o primeiro parque deverá estar pronto, e a conclusão do segundo está prevista para até outubro e a do terceiro, para dezembro. A empresa gaúcha formou uma sociedade com a espanhola Enerfin Enervento (do Grupo Elecnor) e a alemã Wobben-Enercom. Juntas elas deram origem à Ventos do Sul que administra o projeto e está gerando 500 empregos durante as obras.
Costa Pinto destacou que a partir desta iniciativa de grande porte o Brasil passa a ter posição de destaque na geração energética eólica. Segundo afirmou, os parques implantados no Rio Grande do Sul só perderão para um empreendimento nos Estados Unidos, o maior do mundo, com potencial para a produção de 200 MW. O executivo acredita que o projeto gaúcho incentivará ações semelhantes em outros Estados brasileiros.
– Esse projeto oferece três grandes benefícios. Contribui para a solução de um problema sério de infra-estrutura, tem vantagens para o meio ambiente porque a energia gerada é limpa, renovável e colabora para a redução de emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE), além disso, incentiva a indústria nacional e o desenvolvimento de novas tecnologias que até então não existiam no País – reforçou o executivo. Dos R$ 670 milhões previstos para investimentos nos parques eólicos, 69% serão financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo Costa Pinto, do financiamento de R$ 465 milhões já aprovado pela instituição financeira, R$ 105 milhões serão financiados diretamente pelo Banco e R$ 360 milhões virão de um consórcio formado pelo Banco do Brasil, Santander, ABN Amro Real, BRDE, Caixa RS e Banrisul.
Projeto tem índice de nacionalização de 60%
Para conceder o financiamento, o BNDES exige no mínimo 60% de nacionalização do projeto. Segundo Costa Pinto, essa medida é uma forma de estimular a transferência de tecnologia e os avanços na indústria brasileira. Para atender a esse requisito ele acrescentou que a empresa alemã Wobben -Enercom, reconhecida internacionalmente pelo avanço tecnológico dos aerogeradores que produz, montou uma fábrica em Sorocaba(SP) há quatro anos, onde vem produzindo parte dos insumos necessários à geração de energia eólica. – O Brasil é privilegiado em termos de recursos hídricos e com tantos rios e potencial de geração hidrelétrica essa sempre foi uma prioridade. Certamente vamos continuar priorizando esse tipo de geração, mas é importante diversificar. No caso da energia eólica vale salientar que ela sempre será complementar, nunca substituirá a hidrelétrica – afirmou o executivo da CIP Brasil. Entre as curiosidades da obra se destaca a grandiosidade da estrutura que está sendo montada para a geração energética. As 75 torres têm 98 metros de altura e pesam 810 toneladas, cada. Elas serão vistas da auto-estrada e atingirão 140 metros quando somadas aos aerogeradores, equipamentos que pesam 40 toneladas e serão erguidos por guindaste vindo da Alemanha. A ligação entre os parques será feita por mais de 20 quilômetros de estradas internas que estão sendo construídas.
Projetos terão financiamento de US$ 1,7 bi
Até dezembro de 2007 os empreendimentos de energia eólica instalados no Brasil somarão potencial de 1.423 MW – atualmente o País só produz 28 MW a partir dessa fonte alternativa. Esses projetos vão responder por 43% do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa) e para transformá-los em realidade os investimentos serão de US$ 1,7 bilhão. – Será um salto considerável na produção de energia eólica no Brasil e esses investimentos vão de encontro aos objetivos do Protocolo de Kyoto – afirmou Luiz Antônio Duarte, consultor do Ministério de Minas e Energia (MME) e responsável pelo monitoramento dos empreendimentos do Proinfa voltados para as fontes eólica e biomassa. Segundo o consultor todos os projetos do Proinfa vão gerar créditos de carbono, já que as fontes energéticas alternativas contribuem para a redução de emissões de GEE e por sua vez colaboram para a estabilização do clima, objetivo maior do Protocolo de Kyoto. Pelo período de 20 anos, tempo em que a Eletrobrás contratará a energia gerada pelos empreendimentos incluídos no Programa, os créditos gerados vão para uma conta do Proinfa, beneficiando o consumidor final com a redução de custos no consumo energético. O Proinfa, segundo o consultor, é considerado uma política governamental de última geração, que incentivará o crescimento da produção e consumo de energia gerada por fontes renováveis. No programa, lançado em 2002 e implantado em 2004, a energia eólica terá papel de destaque. Assim como Costa Pinto, diretor da CIP Brasil, o consultor do MME também destacou a importância de incentivo ao desenvolvimento da indústria nacional nos projetos do Proinfa. No caso dos investimentos específicos em energia eólica ele informou que cerca de US$ 800 milhões seriam destinados aos equipamentos produzidos no País. Além dos benefícios ambientais dos projetos, Duarte enfatizou também a importância social das obras que vão gerar, nos empreendimentos de energia eólica, 34 mil empregos diretor e 28 mil indiretos. “Esses 62 mil empregos representam 41,6% do total de 150 mil gerados por todos os projetos do Proinfa”, acrescentou. Em reunião na última semana de 2005, a diretoria do BNDES aprovou 16 financiamentos no âmbito do Proinfa. As operações de crédito da ordem de cerca de R$ 1 bilhão foram destinadas à instalação de Pequenas Centrais de Energia Elétrica em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Em dois anos, quando entrarem em operação, esses projetos terão capacidade instalada total de 380 MW. A geração será contratada com a Eletrobrás e será integrada ao Sistema Elétrico Interligado Nacional. Em março último, o BNDES já havia aprovado outros 13 projetos no âmbito do Proinfa, cujos investimentos foram de cerca de R$ 1 bilhão e a potência instalada, de 383 MW. Somadas todas as iniciativas de 2005, o Programa alcançou R$ 2,1 bilhões em financiamentos e outros R$ 3 bilhões em investimentos privados, que beneficiarão onze Estados brasileiros com763 MW de potência, o que corresponde ao abastecimento de 2,3 milhões de habitantes. Segundo o BNDES, os 16 projetos de pequenas usinas aprovados no fim de 2005 vão gerar 4,9 mil empregos, dos quais 4,7 mil durante o período de construção. Após as obras a expectativa é de que sejam criados mais 180 empregos diretos na operação. Entre os projetos recém-aprovados estão as usinas Santa Fé Energética, instalada entre municípios de Minas Gerais e Rio de Janeiro, com financiamento de R$ 90,8 milhões. Outro empreendimento a ser construído abrangendo os dois Estados é a Usina Monte Serrat Energética, cujo montante financiado pelo Banco chega a R$ 80,9 milhões. No Estado de Goiás serão construídas as usinas Retiro Velho Energético, Irara Energética e Jataí Energética. No Mato Grosso do Sul será construída a usina Pouso Alto Energia, e no Espírito Santo serão erguidas a São Pedro Energia e a São Simão Energia. Em Santa Catarina o projeto aprovado foi o da usina Ludesa Energética e em Minas Gerais o da Funil Energia. Outros cinco empreendimentos serão construídos no Sudeste.
Os números dos três parques do Rio Grande do Sul
>> Serão montadas 75 torres, cada uma com 98 metros de altura e 810 toneladas
>> As torres serão distribuídas em três parques localizados em Osório, Sangradouro e Índios (RS)
>> O projeto está gerando 500 empregos diretos e indiretos no período de implantação
>> Cada parque terá 25 torres com potencial para produzir 50 MW de energia eólica
>> O potencial de geração energética total será de 150 MW
>> A energia gerada é suficiente para abastecer 650 mil pessoas em residências
>> Os investimentos totais são de R$ 670 milhões (69% financiamento do BNDES)
>> R$ 360 milhões vêm de um consórcio formado pelo Banco do Brasil, Santander ABN Amro Real, BRDE, Caixa RS e Barinsul
>> A previsão é de conclusão do primeiro parque em junho/julho
>> O segundo parque deve ficar pronto entre setembro/outubro
>> O terceiro parque terá obras concluídas até o final do ano
>> Em janeiro de 2007 todos os parques deverão estar gerando energia eólica
>> O projeto será o maior da América Latina e o segundo maior do mundo
Investimentos
>> 1.423 MW serão gerados em empreendimentos instalados no Brasil até dezembro de 2007
>> Atualmente são gerados menos de 100 MW de energia eólica no País
>> Os empreendimentos instalados receberão US$ 1,7 bilhão em investimentos privados
>> Do total investido cerca de US$ 1,3 bilhão serão destinados aos equipamentos
>> O índice de nacionalização de cada empreendimento é de 60%
>> A energia eólica representa 43% do potencial energético contratado do Proinfa (3,3 mil MW)
>> Os empreendimentos de energia eólica vão gerar 34 mil empregos diretos e 28 mil indiretos
>> O total de empregos gerados pelos empreendimentos contratados do Proinfa será de 150 mil